Aos 51 anos de idade, completados no último dia 5, Cid Torquato Júnior foi nomeado, semana passada, pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) para ocupar o cargo de secretário-adjunto da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Um desafio a mais para ser vencido pelo mogiano, antigo aluno da Escola Estadual Dr. Washington Luís e Colégio Policursos, que se formou advogado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
Especialista na área de Informática, Cid atuava, entre outras atividades, como consultor e palestrante para grandes empresas e instituições, quando um acidente ocorrido durante visita à Croácia, a convite da ONU, em 2007, o deixou tetraplégico.
Abatido, de início, o mogiano ergueu a cabeça e seguiu em frente. Suas ações, a partir daí voltadas para inclusão e acessibilidade do deficiente físico, logo o levaram para a Secretaria, onde começou atuando como Relações Institucionais. Seu trabalho, a competência e eficiência logo o conduziram ao cargo de secretário-adjunto. Em entrevista exclusiva a O Diário, via internet, ele diz o que poderá fazer pela Cidade e Região mostra seus planos para a nova etapa de sua vida:
O que significou para o mogiano Cid Torquato a nomeação para o cargo de secretário-adjunto da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência?
Para mim é uma grande honra ter meu trabalho reconhecido. Tenho muito orgulho de participar do Governo Geraldo Alckmin, um dos homens públicos mais coerentes do país. Ademais, trabalhar com a Dra. Linamara Battistella tem sido um grande aprendizado. Sua capacidade de inovação e energia para conseguir realizar o que acredita são inspiradoras. Espero, com este cargo, ampliar minha contribuição para uma sociedade mais justa e inclusiva.
O que isso poderá significar em termos de programas em favor das pessoas com deficiência do Alto Tietê? Quais seus planos?
Temos projetos em todo o Estado. Depende muito mais da proatividade dos gestores públicos municipais em buscarem parcerias e convênios com o Governo Estadual do que o contrário. Foi o caso da construção do Centro Paradesportivo em Mogi das Cruzes, projeto capitaneado pelo prefeito Bertaiolli e pelo secretário Nilo Guimarães, com grande participação de Valeriana Alves e Dirceu Pinto. Estamos totalmente à disposição dos amigos do Alto Tietê para desenvolver ações na região.
O senhor conhece muito bem a Cidade, onde passou boa parte de sua vida. Sabe das ruas apertadas, das calçadas cheias de obstáculos e que não comportam, em muitos casos, a presença de um cadeirante, entre outras dificuldades. Especificamente para Mogi, existe algo a ser feito isoladamente ou em conjunto com o prefeito Bertaiolli?
Adoraria colaborar em um projeto que reurbanizasse o Centro de Mogi das Cruzes. Na verdade, uma das principais linhas de ação de nossa Secretaria este ano é a questão da Acessibilidade e Mobilidade Urbana. Nossos prefeitos devem ser criativos e ousados para endereçar os problemas de acessibilidade e mobilidade enfrentados em nossas cidades. Queremos contribuir com projetos desta natureza.
Dentro desse quadro, qual a importância da presença da AACD na Cidade?
É muito importante para uma Cidade dispor de um centro de reabilitação, evitando deslocamentos e, muitas vezes, que pessoas necessitadas fiquem desatendidas. Trazer a AACD a Mogi das Cruzes foi uma grande conquista. Atuando em parceria com o Centro Paradesportivo, construído ao lado, bem como com outras ações inclusivas da atual gestão, transforma a Cidade no principal polo de atenção à pessoa com deficiência na Região.
O senhor tem visitado outros países e visto de perto como o deficiente físico é tratado por lá. O que é preciso mudar no Brasil e em cidades como Mogi das Cruzes?
Infelizmente, nossa lista de obrigações ainda é muito grande. Apesar dos avanços dos últimos anos, temos muito o que fazer em atenção básica e prevenção de deficiências, faltam centros de reabilitação, a educação inclusiva e a capacitação para o trabalho precisam de mais empenho, o transporte ainda é uma grande barreira e nossas ruas e calçadas representam grande obstáculo para a locomoção de pessoas com deficiência, que também sofrem com a falta de acessibilidade em lojas e edifícios, sem contar o preconceito e o não cumprimento da legislação vigente, que ainda perduram.
Que conselhos o senhor daria aos prefeitos de cidades do Alto Tietê, onde a preocupação com o deficiente físico ainda é muito incipiente?
A legislação é clara e tem que ser cumprida. Não podemos mais ficar nos desculpando por nossas cidades pouco acessíveis. É necessário planejar bem frente a desafios tão grandes e recursos limitados. Um bom caminho é aproveitar a Política Nacional de Mobilidade Urbana, que determina que municípios com mais de 20 mil habitantes elaborem e apresentem um Plano Municipal de Mobilidade Urbana, para planejar e priorizar as questões relativas à acessibilidade e inclusão da pessoa com deficiência.
Com suas atividades profissionais concentradas em São Paulo, como têm sido os seus contatos com a Cidade?
Sempre que posso, vou a Mogi visitar minha mãe. Mantenho contato sistemático com o prefeito e alguns secretários municipais. Leio diariamente O Diário de Mogi. Tenho muitos amigos na Cidade e mantenho-me informado do que está acontecendo. Não descarto a possibilidade de voltar a morar em Mogi no futuro.
Além do trabalho na Secretaria, como tem sido a rotina do Cid? Continua colaborando com as emissoras de rádio da Capital?
Acordo às 6h30, faço duas horas de fisioterapia, me apronto e começo a trabalhar. Paro às 19 horas, se não há compromissos noturnos. Sempre que posso faço happy hours com os amigos no bar do meu prédio, o Edifício Bretagne, em Higienópolis. Janto com a família e durmo cedo. Como secretário adjunto, devem aumentar meus compromissos públicos. Estou negociando participação em uma nova rádio. Minha vida é bastante agitada.
O senhor sempre esteve profundamente ligado às questões da informática, tendo sido um dos fundadores da entidade que incentivou o e-commerce no País, a partir de São Paulo. De que maneira a informática tem lhe ajudado e colaborado para que o senhor possa continuar ajudando outras pessoas?
As tecnologias da informação são, hoje, fundamentais no processo de inclusão da pessoa com deficiência. Coordeno o Encontro Internacional de Tecnologia e Inovação para Pessoas com Deficiência, organizado por nossa Secretaria, este ano em sua sexta edição, entre 13 e 15 de agosto, no Anhembi, em São Paulo, principal evento do gênero na América Latina. Paralelamente, estamos muito empenhados na questão da acessibilidade digital em sites públicos e privados, inclusive comerciais, no esforço de garantir a todos acesso aos produtos e serviços disponíveis na sociedade.
Tempos atrás, o Cid chegou a ensaiar alguns passos na direção da política partidária, chegando a pensar numa eventual candidatura? Isso continua de pé? Seria algo específico para Mogi, São Paulo ou Brasília?
É um sonho, por enquanto. Talvez o futuro traga alguma oportunidade concreta de continuar contribuindo, dessa vez no Legislativo.
Para encerrar: como recebeu a notícia de que o nome de seu pai será dado ao Ginásio Paradesportivo de Mogi?
Trata-se de uma grande homenagem ao querido professor Cid Torquato e a toda nossa família. Meu pai foi uma pessoa muito bacana, filho e marido carinhoso, sério em seu trabalho como professor de Educação Física e, depois, como advogado, amigão de seus amigos, um ser simpático e generoso. Perdeu uma perna por problema de circulação, o que superou de forma exemplar. Agradeço ao prefeito e amigo Bertaiolli pela deferência. Espero que a população de Mogi desfrute plenamente dessa nova e relevante infraestrutura paradesportiva.