Durante um bom tempo
cultivei uma visão ousada,dinâmica quando precisava sair para me divertir.Encarava
qualquer situação,por mais desconfortável que fosse.Para combater o tédio,evitar
a solidão, valia correr riscos,usar a corajosa prerrogativa de que vale tudo
para encontrar pessoas,estar com quem gosto.
A animação não acabou,nem a vontade de estar
junto com a família.O contato com pessoas essenciais ao meu convívio é sempre
um motor.No entanto,não vou mais fazer as estripulias de antes,ter de subir
escadas com apoio,encarar banheiros como um malabarista.
A pergunta capital,para saber se o local tem
ou não acessibilidade, ganhou outra dimensão.Por mais acolhedores que alguns
recantos sejam,mesmo com a considerável carga de boa vontade,afeto e carinho que
alguns lugares me ofereçam,não farei nenhuma concessão.
Daqui para frente,só frequentarei lugares nos
quais possa chegar sozinho,circular com autonomia e sair quando bem entender.
Tal decisão implica severas restrições.Com
essa determinação em prática,eu ficarei limitado.Por um bom tempo,riscarei muitas
opções já inscritas em minha rotina.
Para propagar a solidez de um conceito vale à
pena ficar mais só?
Estou seguro que sim.Afinal,a procura por
ilhas de inclusão,a busca por um oásis de acessibilidade vai me fazer aguentar
a aridez da exclusão.
Por defeito,ou qualidade,sou teimoso demais
para aceitar algumas conveniências.Eu me recuso a ficar acomodado assim,com o quase
conforto de muitas das áreas por onde circulo.
Atravesso desgostoso os contornos mal feitos de
muitas das rampas que conheço. Enquanto manejo o meu andador por ruas sem conservação,eu tenho raiva,sinto também vergonha de como o assunto é tratado.
Estamos inseridos em uma cultura que premia a gambiarra.O fazer malfeito, de qualquer jeito não me
satisfaz.
Nenhuma mudança maciça acontecerá caso
continuemos a nos contentar com pouco.
O mundo nunca vai ser estruturado a partir
das normas da ABNT.
Os dez mandamentos no meu
momento não são a diretriz.Talvez,valham alguns ideais fixados pela Revolução
Francesa e a Declaração dos Direitos Humanos,formulada pela ONU.
Mas como essas concepções de cidadania nos escapam.
Não vou fundar nenhum
partido político, criar nenhuma ONG ou samba-canção.
Meus amigos, a letra é
simples:
‘Se for me chamar para
algum evento, alguma reunião, me diga antes como são as condições de
acessibilidade do lugar’’.
A resposta precisa ser direta,
curta e taxativa.
Com o tempo, se conseguir
acrescer opções a esse menu limitado,estarei realizado.
Porque ando com fome para
incluir,me conectar com espaços que respeitem,considerem o meu direito de ir e
vir.
Mesmo sendo heterodoxo, ainda
que a proposição possa soar radical, não custa repetir:
''Se não tiver acessibilidade, já pode considerar a minha ausência''.
Um abraço para todos,
André Nóbrega.