Dentre todas as festas do calendário cristão,
a que mais me representa, me emociona é a Páscoa. E nem é pelos
chocolates,posso lhes garantir.Sou tocado sobretudo pela simbologia da data.
Afinal, hoje ,no domingo de Páscoa ,a
ressurreição de Jesus Cristo é evocada de uma forma muito bonita.É um tempo que
nos convoca a uma reavaliação obrigatória,feita sem muito rigor,naquele efeito
prazeroso de um almoço junto com a família.
Credito a capacidade de se reinventar como
sendo uma qualidade essencial, para toda e qualquer pessoa. No nosso caso não
existem muitas opções. O espírito de renovação, a capacidade de nos insurgimos
após as piores quedas não é uma escolha.
Temos que alimentar uma condição para a Fênix,a ave mitológica que renasce das cinzas,voar sobre certos momentos da nossa trajetória.Isso é um pré-requisito para vivermos. Estamos numa sociedade desigual, diferente em relação as oportunidades
que nos são oferecidas.Não é por sermos perseverantes,por alimentarmos como
princípio de vida uma força de resiliência que nós sejamos especiais.No
entanto,o talento para ressurgirmos talvez nos torne mais interessantes.
A nossa Páscoa fundamental
de cada dia acontece, e sem o sabor doce conferido aos ovos de chocolate.Somos
consagrados pelo princípio dessa significativa data quando necessitamos pegar um ônibus,e, para cumprir o feito,encaramos ruas perigosas, a boa ou má vontade dos
motoristas que poderão ou não parar com o veículo.E,depois,ainda ficamos em
assentos mal conservados.
Nós ressuscitamos em situações assim porque matamos
muitos sentimentos autodepreciativos. Na rua,ou você vai firme ou ela te racha.Não dá tempo para pensar muito,sobra espaço na mente para os detalhes do caminho a ser feito.Depenamos a possibilidade de
sentirmos pena de nós mesmo quando conseguimos trabalhar.
Quando aplico o meu saber, a minha inteligência em projetos relevantes, eu revivo o meu potencial criativo.Cada
suor meu consolida a ideia que me transformo em alguém melhor,à medida em que
vou me descobrindo como ser responsável,cidadão capaz de contribuir pela
construção de uma sociedade mais justa,igualitária.
Acho a expressão matar um leão por dia insuficiente,
imprecisa para todos nós.Sim,é do conhecimento geral o caráter de certas
circunstâncias presentes em nosso cotidiano,onde precisamos executar vários
malabarismos.Atravessar a rua é uma ação tranquila para quase todo mundo.Nem sempre
isso acontece conosco.Contudo,não é desse esforço que eu tiro as melhores
lições.
Vale para mim o esforço constante de manter o
prumo, o fôlego nas provas monumentais colocadas pela existência. Termos o
direito constitucional de ir e vir violado, não possuirmos oportunidades de trabalhos
condizentes com a nossa vocação e valor intelectual,e ainda lidarmos com a
pequenez de certas figuras. Por isso cada vez mais eu consagro o dom para
ressurgimos,de forma teimosa e constante para melhorarmos.
O samba das dificuldades toca sempre.A fala
desanimadora,vinda do nosso íntimo,a nos convocar um convívio com o desespero, é
feito um pandeiro mal tocado.Na cadência dos nossos sonhos nós reaparecemos na
avenida,dia após dia.Mesmo com a voz cansada,as pernas bambas,e o coração
palpitante,eu não posso perder o ritmo da música que me eleva .E quem dá o tom
dela é sempre o som convocado pela ressurreição.
O domingo de hoje nos lembra uma qualidade que já desenvolvemos faz tempo.
Que a cada renascimento nosso
nós voltemos mais plenos, aptos para sedimentarmos o nosso caminho.
Uma feliz Páscoa e um abraço
para todos !
André Nóbrega.