Um golpe na esperança. Assim
recebi a notícia do desastre na ciclovia Tim Maia, ocorrida na última quinta-feira,
21 de abril, no Rio de Janeiro. No mesmo dia em que a tocha olímpica saía da Grécia,
o céu do feriado presenteava a cidade com um sol espetacular, sem possibilidade
alguma de tempo ruim prevista pela meteorologia.
Desde então, tenho notado um
clima diferente por aqui. No domingo, durante um passeio pela orla, o dia novamente
belo não impediu o calçadão da praia de ficar vazio. Vazios ficamos todos. Ontem, ao rodar
por alguns bares, não vi nada que lembrasse o estado de espírito que nos tornou
conhecidos. As mesas, de tanto espaço, faziam a minha tristeza se perpetuar.
Nesse feriado todos convivemos
com um luto. Feito uma quarta-feira de cinzas prolongada. Em particular, o
tombamento na ciclovia ruiu um pensamento meu cultivado ao longo dos tempos. Eu
acreditava no legado que os Jogos Paraolímpicos pudessem trazer à nossa causa.
Quem é deficiente físico no
Brasil precisa lidar com imprevistos. Não temos escolha, para executarmos atos
simples corremos riscos. A falta de condições é um dos alimentos para brigarmos
por melhoras na nossa vida. Porém,diante de uma tragédia como a ocorrida na
última quinta,eu revejo alguns conceitos meus.
Entrei em 2016 agradecido
por viver um momento histórico para a nossa luta. Pensava comigo: ’’além da Lei
Brasileira de Inclusão, nós teremos os Jogos Paraolímpicos’’.
Não tenho dúvidas quanto ao
sucesso esportivo da empreitada. Nossos atletas promoverão um reencontro com um
sentimento há muito perdido. Cada vitória nossa, cada medalha no peito nos
chocará com um pensamento impossível de ser conjugado atualmente: o orgulho de
sermos brasileiros.
Ainda entristecido, procuro evitar
ver a imagem da onda que despedaçou a ciclovia. O que ruiu foi um modo de fazer
política obsceno, maculado pela corrupção, pela total falta de respeito com a
vida das pessoas. Essa conduta sem noção ninguém aguenta mais. Batemos todos os
recordes da canalhice possíveis.
Mesmo assim, precisamos crer na força dos atletas paraolímpicos. Deles virão os maiores legados para o Brasil que precisamos construir.
Aquela onda que se debateu
contra a ciclovia interrompeu trajetórias de cinco pessoas,sacolejou a última
fé restante quanto ao sucesso organizacional dos Jogos no Rio.
Mas, a nossa luta
prossegue,resistindo a maremotos, insanidades políticas e a toda privação que
impeça a nossa cidadania.
Apesar de todos os pesares, precisamos
resistir. Nada nos virá fácil.
Um abraço para todos,
André Nóbrega.