Por
que a hora do sim é um descuido do não. Se Vinícius de Moraes afirmou isso, não
cabe muita oposição. Palavra de poeta costuma valer mais, ajuda a ressignificar
o rumo, o peso das experiências. Com inegável volume, carga de contundência e
suavidade .
A
experiência existente, pelos poucos amores vividos , obtida com algumas
criações esparsas feitas, é bastante tímida, para ocupar alguma expectativa inútil, por comparação. Bom, se hoje tenho em Vinícius como um ídolo, na adolescência o
considerava um Deus.
Cabia
cada palavra de amor, letra de canção feita, para ajudar com meus primeiros
passos, conquistas, digamos, dos dezesseis anos até os trinta. Da estrada , pavimentada
por erros, tentativas e trajetória.
Dos
30 em diante a trilha sonora mudou, por completo. A Bossa Nova perdeu um
adepto, ganhou, no máximo, um fã distanciado. Ao invés de saudar o mar, o
barquinho a navegar, ao fim da tarde, junto com a garota a caminho no mar,
vinham um sem fim de questões, bem mais urgentes.
Não
mais olhar para os lados. Perder, por muitos anos enquanto me movimentava, na
rua, o contato visual com as pessoas. Fundamental me ater, como pré-requisito
para evitar quedas, aos buracos da rua.
Para quem possui uma deficiência, saber desviar dos erros é um hábito. Negar o cultivo da
resiliência nunca é uma opção. O que não nos eleva, nos coloca a mágica
condição dos exemplos.
Aprendemos
com as experiências, apenas. A quantidade de negativas faz germinar na carne,
junto com a alma, um senso de observação pragmático.
Com
menos versos, poesia, uma atitude conjugada, um tanto acostumada ao fenômeno da
impermanência. A dor a lhe afligir hoje, depois, vai se atenuar.
Tem
sempre na esquina, no futuro, uma possibilidade
de riso, de gozo, pronta, à espreita, doida para nos acolher.
Com
o tempo, adquirimos o reflexo necessário para evitarmos acidentes, junto com aquela
malícia indispensável, vinda para tirarmos dos instantes alguma escada.
Algum
levante possível, pronto para nos elevar.
Tudo
muda, sempre.
Uma
vantagem inequívoca em fazer 40 anos consiste justamente nisto. Desdramatizar o
contexto dos erros, não fazer alarde, festa, desfile com trio elétrico, ao
menor contato, com as vitórias surgidas.
Contudo,
o leitor de Vinícius a habitar em mim sabe que a tristeza é apenas um intervalo,
entre duas felicidades. E também, que há sempre uma mulher à sua espera, com os
olhos cheios de carinho...
Apesar
do convívio com alguns invernos, o alcance, vislumbre com a primavera aquiesce.
Não para uma perspectiva ingênua, órfã , pelo contato insistente com constantes
desatinos, abandonos.
Jamais
perder a noção da realidade, do infinito hall de mudanças a serem operadas,
para a causa.
No
entanto, aprender a identificar, na curva e anseio dos asfaltos, a irresistível
beleza de certas flores, que teimam, insistem em aparecer. Para mim, para você,
a quem treinar o olhar.
Um
abraço para todos!
André
Nóbrega.