Sou guiado por algumas situações.Quando estou
na rua sempre me atento para encontrar algum cadeirante,alguma pessoa com
deficiência que possa estar perto de mim.E as razões são muitas para isso
acontecer.
Quando encontro pessoas que optaram por estarem
na rua,mesmo com as reconhecidas adversidades com as quais precisamos nos
defrontar,fico tomado por um sentimento de satisfação.
Apesar dos pesares,continuamos na luta pela
interação social. A rua,mesmo com seus empecilhos,é também o lugar para
conhecermos pessoas,passearmos.Podemos sentir a vida com mais força quando
saímos de casa.
Ao procurar nas ruas por
pessoas com deficiência eu alimento a minha militância.
Embora a demanda da acessibilidade seja um
fenômeno incontornável, os esforços para lidar com a questão ainda ocupam um
posicionamento político tímido do nosso governo.
Os espaços para a circulação nos desfavorecem.
No entanto, para fazer valer o conceito de cidadania que nós desejamos,primeiro
nós precisamos ser notados.
Quando mais pessoas com deficiência nas ruas trabalhando,
tentando usar o transporte público,maior será o olhar da sociedade sobre as
nossas demandas.
A invisibilidade nos persegue. Ficamos muitas
vezes mais íntimos com o mundo das faltas.Na maior parte das vezes é mais fácil
computar a quantidade de direitos que não nos atendem.A semente,a necessária vontade para fecundar mudanças não são alimentadas.
E,realmente,se cada um de nós parar,começar
uma lista do que poderia melhorar, teremos todos itens variados para
enumerar.Para não dizer infinitos.
Acredito no valor dos pequenos
gestos.Percorrer a cidade com o meu andador,andar de ônibus nunca são ações
fáceis,de tranquila execução.
Porém,por ser teimoso e crer muito na luta
pela inclusão ,eu adoro encontrar nas ruas pessoas , gente com uma rebeldia
semelhante a minha.Aqueles cuja deficiência permite levar uma rotina produtiva.
O inconformismo, quando bem alimentado,é um
capital poderoso para solidificar mudanças.Vai demorar muito para a acessibilidade
ganhar a atenção de que lhe é devida.As mudanças capazes de melhorarem a nossa
realidade demoram a acontecer.Além do mais,a evolução nunca é compatível,nem
proporcional ao que precisamos para conseguirmos viver com dignidade.
Ainda precisarei andar um
bocado por ruas esburacadas, avenidas com sinalização desfavorável,a me obrigar
a atravessar a rua em tempo sempre difícil de ser cumprido.
Mesmo assim, a alegria sentida a cada vez que encontro cadeirantes na rua me impulsiona.Não estou só nessa luta.
Existe uma legião de seres resilientes,tenazes,que,mesmo com tantos
obstáculos,sempre prossegue firme em sua caminhada.Vejo isso sempre nas ruas.
Que sejamos sempre assim.
Um abraço para todos,
André Nóbrega.
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