O
momento pós-lesão é sempre um calvário.Além de ser penoso para quem acaba de
sofrer o baque,também se mostra como uma situação complicada para os nossos
familiares.Ninguém está preparado para o fato;lidar com isso não é algo a ser
lido em nenhum manual.
Comigo, além da fisioterapia, computo outros
fatores para a minha reabilitação. Primeiro vem o amor incondicional dos meus
pais, do meu irmão, que mesmo confusos, entristecidos com a situação, foram
pródigas fontes de incentivo. Classifico a força dada por
amigos,amigas,primos,primas como algo indispensável para achar força naqueles
tempos sombrios.
Mesmo assim, predominava um evidente
desconforto com a situação.E não era para menos.Até os meus 30 anos,eu
corria,sorria e jogava bola como qualquer pessoa comum.E,de repente,não mais
que de repente,vem uma lesão neurológica e muda tudo.
Fiquei seis meses conseguindo mexer somente o
pescoço,com o corpo paralisado,totalmente atônito,inseguro quanto a qualquer
perspectiva de futuro.Sem a família,as visitas de pessoas ansiosas para me
encontrarem,saberem como eu estava,teria sido quase impossível prosseguir sem enlouquecer
.
O terceiro fato que eu classifico como
fundamental foi passar a ter frequentado um bar, bem perto da minha casa. O bar
Rebouças me acolheu, reconheceu de imediato a pessoa que ocupava a cadeira. Não
era um cadeirante tristonho a vagar pelas ruas. Eu era o André, doido pela
coca-cola em garrafa do lugar,e querendo achar um espaço para recomeçar.
Meus novos amigos, ao invés de terem pena de mim,escolheram brindar à vida comigo.
Embora tudo seja difícil para a gente, eu
defendo o direito sagrado, constitucional de termos um espaço para rirmos, falarmos
besteira, paquerarmos e comentarmos trivialidades.
Esse tesouro das pequenas coisas, essa poesia
que o cotidiano pesado insiste em nos afastar, pode ser alimentada.
A minha fisioterapia existencial foi feita
nesse bar. Ali tem sido o palco dos meus melhores momentos. O drama é sempre suavizado
pelas piadas, pelo clima bem humorado, informal e despretensioso comum a tais
estabelecimentos.
Porém, o bar Rebouças é diferente. Ele faz com
que você de imediato se sinta à vontade com o ambiente. Por ali trabalha o
inacreditável Jorginho,já eleito o melhor garçom do Rio.Lá mesmo,encontrei uma
galera que passou a me levar em casa com a cadeira.E depois, começou a me
chamar para festas,viagens,churrascos.
Dedico essa crônica a todos os meus amigos, amigas
desse bar fantástico, e dizer que o meu caminho ficou muito mais fácil quando passei
a conviver com vocês.
Um abraço para todos,
André Nóbrega.
Melhor bar! E feliz aniversário meu querido!
ResponderExcluir"Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas..."
ResponderExcluir