03 abril 2016

O bar que foi a minha reabilitação existencial

   O momento pós-lesão é sempre um calvário.Além de ser penoso para quem acaba de sofrer o baque,também se mostra como uma situação complicada para os nossos familiares.Ninguém está preparado para o fato;lidar com isso não é algo a ser lido em nenhum manual.

 Comigo, além da fisioterapia, computo outros fatores para a minha reabilitação. Primeiro vem o amor incondicional dos meus pais, do meu irmão, que mesmo confusos, entristecidos com a situação, foram pródigas fontes de incentivo. Classifico a força dada por amigos,amigas,primos,primas como algo indispensável para achar força naqueles tempos sombrios.

 Mesmo assim, predominava um evidente desconforto com a situação.E não era para menos.Até os meus 30 anos,eu corria,sorria e jogava bola como qualquer pessoa comum.E,de repente,não mais que de repente,vem uma lesão neurológica e muda tudo.

 Fiquei seis meses conseguindo mexer somente o pescoço,com o corpo paralisado,totalmente atônito,inseguro quanto a qualquer perspectiva de futuro.Sem a família,as visitas de pessoas ansiosas para me encontrarem,saberem como eu estava,teria sido quase impossível prosseguir sem enlouquecer .

 O terceiro fato que eu classifico como fundamental foi passar a ter frequentado um bar, bem perto da minha casa. O bar Rebouças me acolheu, reconheceu de imediato a pessoa que ocupava a cadeira. Não era um cadeirante tristonho a vagar pelas ruas. Eu era o André, doido pela coca-cola em garrafa do lugar,e querendo achar um espaço para recomeçar.

 Meus novos amigos, ao invés de terem pena de mim,escolheram brindar à vida comigo.

  Embora tudo seja difícil para a gente, eu defendo o direito sagrado, constitucional de termos um espaço para rirmos, falarmos besteira, paquerarmos e comentarmos trivialidades.

 Esse tesouro das pequenas coisas, essa poesia que o cotidiano pesado insiste em nos afastar, pode ser alimentada.

A minha fisioterapia existencial foi feita nesse bar. Ali tem sido o palco dos meus melhores momentos. O drama é sempre suavizado pelas piadas, pelo clima bem humorado, informal e despretensioso comum a tais estabelecimentos.


Porém, o bar Rebouças é diferente. Ele faz com que você de imediato se sinta à vontade com o ambiente. Por ali trabalha o inacreditável Jorginho,já eleito o melhor garçom do Rio.Lá mesmo,encontrei uma galera que passou a me levar em casa com a cadeira.E depois, começou a me chamar para festas,viagens,churrascos.

 Dedico essa crônica a todos os meus amigos, amigas desse bar fantástico, e dizer que o meu caminho ficou muito mais fácil quando passei a conviver com vocês.

Um abraço para todos,

André Nóbrega.






2 comentários:

  1. Melhor bar! E feliz aniversário meu querido!

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  2. "Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas..."

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