02 outubro 2016

Em algum lugar do meu passado

  De forma tímida, circulou a notícia um tanto quanto anônima acerca da recuperação dos arquivos do orkut.
  
  Soou como uma batida do gongo, pois eu precisava salvar algumas fotos minhas. No Orkut estavam guardadas as imagens de um período marcante, decisivo da minha vida.

 Os aniversários, as festas a mostrar como era a minha rotina, pouco antes da lesão, ainda me incomodam. Não devido a um exercício de como tudo poderia estar diferente, em como eu estaria a viver numa vida comum.

  Eu queria olhar para esses momentos sem hesitação, nem saudade. Porque durante muito tempo eu evitei olhar para tais registros. Nutria um receio de ser tragado pelo passado, estar colidido, de forma súbita e insistente, por uma maré de forte melancolia.
  
  Nada disso aconteceu. Foi colocada, mais uma vez, a estranha, rica e densa maneira que a vida tem de perpetuar a sua força. A ausência da movimentação plena, o fato de ficar três anos e meio na cadeira de rodas, passar para um andador depois, me reconfortou com outra coisa. Consegui obter um senso vigoroso do nosso poder de adaptação .
  
  A deficiência quando surge nos joga por um abismo. Essa força nossa, o movimento de adesão à luta por nossa plenitude e efetividade nasce de um grito. O berro não precisa acordar a vizinhança, tem que estar consolidado em nossas entranhas, para que toda carga que enfrentarmos futuramente se tornar mais suportável .

  Carregamos todos muitas cicatrizes invisíveis. A cadeira de rodas, o andador parecem sinalizar para muitos uma ferida sempre aberta.

  O ritual de rever as fotos do Orkut foi excelente. Muitas das pessoas que comigo estavam, a me abraçar nas fotos são tesouros mantidos no meu presente.

 Minha quilometragem de sentimentos vividos, fatos passados é outra. Ela não computa tanto a velocidade das distâncias percorridas, o meu medidor se atenta mais é para a verdade dos instantes.

 E foi bom cair, para depois conseguir levantar com mais força. Eu gosto de sorrir muito mais hoje. Com vinte e poucos anos eu me levava muito a sério. Raras as fotos onde apareço a sustentar um sorriso.

 Já não ouso cometer tamanha heresia. Nunca desperdiço a oportunidade dada por uma boa risada. Gargalhar é tão sagrado quanto o brinde.

 Sem querer, a partir de uma série de fotos e arquivos, foi executado um exorcismo. Limpar o sótão, tirar o mofo das gavetas aprisionadas por impressões cultivadas é válido.

  Sabe aquela ideia de flor nascida do asfalto?

  Pois, em tempos de primavera, quem sou eu de não dar voz, corpo a minha vocação de semeador?

  Os álbuns do meu futuro já têm outra cor. Tem mais nitidez para reforçar alguns tons.

  São quadros corajosos, onde os vermelhos se condensam a uma perspectiva de mundo esverdeada.

  Sigamos firmes, fortes na construção de um novo tempo.

  Um abraço para todos,


 André Nóbrega.


24 setembro 2016

O pátio da FACHA


   Existe um lugar onde as barreiras não pesam. Por lá ,os conceitos de inadequação, falta de acessibilidade e inclusão inexistem. Ou , pelo menos, são cargas tão inexpressivas, que não me fazem sentir desconfortável. Pelo contrário, enquanto transito, me locomovo por esse local,é passada uma carga de amor muito grande.

  Falo do pátio da FACHA(a Faculdade Hélio Alonso), localizado em Botafogo. Quando conheci a faculdade, estava bastante receoso. Após muito tempo, com mais de 30 anos, iria fazer outra graduação. Por ser cadeirante, tinha medo de rejeição, de não conseguir me entrosar com a galera da FACHA.

  Estava enganado. O acolhimento foi integral. Existiu sim um abraço sentido desde a primeira semana de aula, durante os trotes. E, para falar a verdade, não houve trote e sim uma ligação direta. Fica até difícil explicar para quem é de fora, mas no pátio da FACHA, a letra da música ‘ ’Tempos Modernos’ ‘,do Lulu Santos, é absorvida de forma integral.

  O começo de um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera está fixado, inserido no DNA dos alunos, incorporada à gentileza dos funcionários da instituição.

  A pessoa com deficiência vive aprisionada por preconceitos, é obrigada a enfrentar condições desiguais para quase tudo na vida. Para aferir correção, tentar nos atribuir um critério possível de nos classificar, muitos recorrem a siglas, a frieza das catalogações para nos definir.

  É tão bom poder ser conhecido pelo nome, ser considerado pelo que eu sou e não pela falta que tenho. Pois no pátio da faculdade onde estudo, trabalho, sinto ocorrer isso. E, na boa, não poderia existir lugar melhor para propiciar um ambiente inclusivo.

 Não é o elevador, o piso tátil, o banheiro adaptado que tornam a minha segunda vivência universitária algo inesquecível. No pátio da FACHA a integração já está sedimentada, amparada por um ambiente que considera, entende a diferença, apoia a singularidade dos seus alunos.

 Um passeio pelo pátio da FACHA nos permite uma aula de tolerância. Aprendo assim mais sobre a diversidade do que em qualquer livro. Lá, o abraço, o sorriso são moedas de troca.

 Convivo com essa atmosfera todos os dias. Saio do campus da faculdade sempre mais leve, pronto para encarar os buracos com outra disposição. O resgate comigo mesmo, com as minhas potencialidades é alimentado por essa galera linda da faculdade.

 Todos nós merecemos um pátio igual ao que encontrei na FACHA. Quando estou na faculdade sinto a acessibilidade estabelecida, determinada como uma prática espontânea, e não como imposição.

 Creio que as maiores revoluções, as grandes mudanças, quando guiadas pelo afeto , alcançam um patamar maior de conscientização .

  O pátio da FACHA, com sua irresistível carga de carinho que me destina, com o volume de empatia inserida todos os dias, é uma inspiração constante.

 Haja esforço, determinação para conseguir surgir nos outros cantos algo similar, parecido ao que ocorre comigo nesse pátio.

 Devagar, nós chegaremos lá.

 Um abraço para todos,


André Nóbrega.


18 setembro 2016

O pódio nosso de cada dia


 Vivemos hoje uma espécie de ressaca. Só que ao invés de dor de cabeça e tristezas pelo que passou, o fim da festa proporcionada pelas Paralimpíadas tem outro sabor.Tem mais a ver com herança do que saudade.

  Somos todos herdeiros do espetáculo visto aqui, no Rio de Janeiro, entre os dias 07 e 18 de setembro. Ainda nos restam muitas barreiras a serem ultrapassadas. Porque as raias do preconceito nos exigem uma superação diária. Haja preparo, disposição para percorremos esta maratona, capaz de consolidar o Brasil como país inclusivo.
  
  Longe dos holofotes nós travamos um pódio. Temos muitas disputas nossas feitas em silêncio, no cotidiano vazio, nada acessível das nossas cidades. Somos todos campeões enquanto buscamos uma forma de vida mais plena e participativa
  
  Sem um estádio cheio a nosso favor, distantes da multidão capaz de vibrar conosco, a cada feito nosso, nós perseguimos feitos ainda inalcançados.
  
  Carregamos uma medalha invisível no peito. Apesar de toda a desigualdade, mesmo com tamanhas dificuldades a gente continua, mantém a intensidade dos esforços. Ambicionamos uma meta mais duradoura, mais difícil que a estabelecida por um atleta, durante um ciclo olímpico.
  
  Não nos esforçamos durante quatro anos para abaixar um tempo. A marca almejada é tão complexa de ser atingida. Embora estejamos atrasados no reconhecimento dos nossos direitos, encontramos uma urgência.
  
  Lutamos contra o relógio, pois, enquanto vivermos, precisamos firmar um diálogo com o futuro. Semeamos um compromisso com a eternidade.  Queremos que todas as pessoas com deficiência no Brasil possam sempre viver melhor.Esse, fundamentalmente, é um plantio para a colheita de gerações futuras.

 O ganho dos nossos paratletas,as mudanças de pensamento trazidas pelas Paralimpíadas. São efeitos a serem repercutidos em muitas memórias, a ecoar na lembrança de inúmeras gerações.
  
 Foram duas semanas que valeram mais do que cem anos de luta. No centro de um evento de importância mundial, para muitos ficaram os exemplos de superação, trazidos pelos personagens principais dos jogos.

  Prefiro pensar que pude estar representado pela mais nobre escala de representatividade. Atletas de alto rendimento puderam mostram ao mundo o quão surpreendente podemos ser.

  E continuamos na luta por mais visibilidade.

 Vamos seguir convictos, perseverantes na luta pela inclusão.

 Um abraço para todos.


 André Nóbrega.


11 setembro 2016

O nosso 11 de setembro.

  O lugar na história para o 11 de setembro está marcado pelo sangue.De imediato,nos remete à destruição do World Trade Center, nos colide com um arsenal de imagens assustadoras daquele dia malogrado pela dor, há quinze anos atrás.

  Para o Chile, então, a data também suscita desgraças. O mesmo 11 de setembro, mas no ano de 1973, marca o início da sangrenta ditadura no país. Associa o período com outras tristes histórias dos governos autoritários latino-americanos da época.

  Existiria um 11 de setembro brasileiro? Algum fato capaz de refletir um acontecimento de mudança da história?

  E se hoje pudéssemos promover, estabelecer com novos fatos o deflagrar da nossa primavera? Mesmo com as ordens de todas as pautas vigentes, do açougue político vindo de Brasília, há uma verdade incontestável: a paralímpiada é um sucesso retumbante. É um fato capaz de encher de orgulho cada brasileiro, de nos fazer voltar a dialogar com outros horizontes.

 Não apagarei da memória as matérias que suscitam a tragédia americana. E, por consciência e apego à democracia, o início do governo Pinochet carece de um cuidado diante dos Trumps,dos vices que nos fazem temer por uma possibilidade de um futuro de reconstrução,que prometem uma mudança abraçada pela mordaça.

 Pela primeira vez estive numa prova dos Jogos Paralímpicos. Já consigo anexar novas memórias à data, porque hoje eu fiquei carregado pelo ideal de humanidade que consagrou o Gandhi , o Martin Luther King.

  Embalado pela amorosidade, segui magnetizado em meio a uma multidão que perfilava um sentimento estranho, abafado pelas tempestuosas crises. Estava lá, de forma clara o motivo que enfim podia promover orgulho ao nosso mal tratado país.

  Nação singular, de tanto baterem na gente desaprendemos a gostar de ti.Perdoe-nos pelo afastamento, mãe gentil, mas essa dor nossa, tão pungente, não há de ser inutilmente.

  O 11 de setembro de 2016 que eu vivi hoje, no Rio de Janeiro, é o mundo onde eu quero estar sempre.

 Terra adorada, a nação dos 45 milhões de pessoas momentaneamente excluídas, germina sonhos prósperos, e o seu futuro espelha essa grandeza.

Verás que um filho teu não foge à luta,enfrenta calçadas perigosas,mas também frequenta pódios e acumula medalhas.

Nossa trajetória está apenas começando.

O melhor ainda está por vir.

Um abraço para todos que acordarão amanhã sob outro efeito,por estarem alimentados com a construção de um Brasil mais inclusivo,


André Nóbrega.


04 setembro 2016

Paralímpiadas,o nosso grito do Ipiranga

 O dia da independência do Brasil neste ano virá recheado, revestido por múltiplos significados. Pois, existe uma sincronia latente entre a data que celebra o país enquanto nação autônoma, soberana com o início dos Jogos Paralímpicos.

 É chegada a hora da nossa causa emitir um urro, formular um gesto capaz de enobrecer toda a nossa história para o reconhecimento das nossas demandas. No dia 07 de setembro começará um novo capítulo na história da nossa inclusão. Que grito do Ipiranga poderia carregar o espírito da nossa luta de forma tão justa, simbólica e retumbante?

 Não pesa nenhuma visão utópica, a considerar que tudo de repente se tornará melhor. Porém, sem dúvida alguma, o espírito de luta, de suor a ser direcionado para as mudanças que almejamos, todo o esforço empregado em nome de uma sociedade inclusiva estará mais bem representado.

 Os paratletas brasileiros representam a consolidação de uma tendência;a cada medalha, a cada recorde conquistado. Nós todos ganharemos uma visibilidade considerável.

 E que representatividade privilegiada será a que teremos entre os dias 07 e 18 de setembro. A fina flor dos campeões, formada pelos brasileiros concentrados para o evento, com certeza, nos orgulhará. 

 O incômodo pódio do preconceito precisa ser abandonado. Aos poucos, a sociedade, já míope com a pobreza de tantas siglas, denominações preocupadas em atender a qual quadro de deficiência nós estamos inseridos, perceberá o óbvio.

 Nós estamos muito além daquilo que nos falta. As costumeiras atribuições a nós feitas como coitados, prima irmã da tendência de achar que somos vítimas do destino sofrerá um abalo. Esse sentimento não terá espaço quando algum campeão nosso, uma atleta brasileira paralímpica subir ao pódio nas próximas semanas.

 Então, para quem é preconceituoso e tem a alma ensebada por uma mentalidade tacanha, a partir do dia 07 de setembro, por favor, reconsidere as suas opiniões. É sempre tempo de melhorar.

  Para todo mundo os Jogos Paralímpicos oferecerão uma chance de melhora íntima. Para alguns, não será surpresa alguma, e sim a afirmação da nossa potencialidade em um estágio pleno.

 Para outros, os jogos cumprirão uma função pedagógica, ao mostrarem que as superações das barreiras, dos limites podem ser feitas de forma tão categórica.
  
 Embora surja a necessidade de fazer uma ressalva.Porque para quem esteja intoxicado por certezas,seja regido por uma maneira limitada de perceber o mundo,e por isso,ainda não tenha racionando algo elementar.

  Aprender com tombos, conviver com as quedas de forma sistemática são fatos com os quais lidamos sempre. No entanto, nós costumamos ultrapassar marcas invisíveis, sem o usufruto de nenhuma medalha.

  No dia 07 começarão os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Será muito mais do que uma festa global, a evidenciar a condição do Brasil como potência paralímpica.

 Começará na quarta-feira o registro para o mundo da nação inclusiva, que algum dia o nosso país poderá se tornar.

 E, apesar das dificuldades, iremos com sede ao pódio.

 Um abraço para todos,


 André Nóbrega.


28 agosto 2016

Paralímpiada,sua linda,você já renovou o meu flerte com a salvação da humanidade.

 Amigos e amigas,chegou a 900 mil o número de ingressos vendidos para Paralímpiada. Isso demonstra uma reação extraordinária, um movimento de adesão à causa que muito deve nos orgulhar.

 Comecei a semana passada trafegado por uma neblina. Estava impactado com o noticiário, e o panorama justiçava o clima turvo, a perspectiva nublada.

 Como ficar feliz quando o que se reportava era uma venda irrisória, um montante ridículo em face do total de ingressos disponibilizados?

 O sol começou a raiar na terça-feira, pois à noite foi estabelecido um recorde. Somente naquele dia foram vendidos mais de 130 mil ingressos.

 Foi lindo constatar o efeito benéfico, multiplicador que as redes sociais aglutinaram à causa. De repente, amigos, amigas entre os meus contatos não só confirmavam a ida aos Jogos, como também passaram a endossar o coro para que mais pessoas comprassem ingressos.
  
 E aqui estamos nós, a aguardar o início da próxima semana, com a alma renovada. O perigo de fazer projeções é vincular aos números uma condição de miragem. Além de ser uma maneira imprecisa de querer mensurar o futuro, atende a uma forma um tanto quanto impessoal de relatar certos fatos.
  
  Na semana que passou, ao longo das manifestações de incentivo às Paralímpiadas,houve sim uma distribuição de esperança,em largas e cavalares doses.

 Estamos preparando o terreno para o Daniel Dias brilhar nas piscinas, a Terezinha Guilhermina romper como um raio a barreira dos recordes nas pistas.

  Seremos sempre campeões enquanto lutarmos por melhores condições de acessibilidade. Temos pela frente um desafio olímpico: fazer do Brasil um país mais inclusivo e justo.

  A semana que passou foi renovadora, em muitos aspectos.
  
 Conquanto que as barreiras, os empecilhos sejam entraves consideráveis para a nossa vida, o apoio, o reconhecimento aos nossos esforços têm vindo.
  
  Faltam 10 dias para a realização dos Jogos Paralímpicos do Rio.

 Vamos viver essa experiência certos de que começamos ganhando,por conseguimos impulsionar a venda de ingressos,e de forma espontânea, revertermos a conjuntura de um quadro desesperador.

  Ainda podemos mais, vários ingressos estão disponibilizados.A festa pode ficar melhor.

  Paralímpiada,sua linda,você já renovou o meu flerte com a salvação da humanidade.

  Vamos com tudo!!!

  Um abraço para todos.


  André Nóbrega.


21 agosto 2016

Querem apagar a chama dos Jogos Paralímpicos

  Predomina um clima de ressaca no Rio de Janeiro. Após o sucesso dos Jogos Olímpicos, a aceitação maciça dos cariocas, dos turistas que aqui estiveram, ninguém quer voltar para a vida cotidiana, atribulada da cidade.

 Isso é um péssimo sintoma para a nossa causa. Afinal, se o melhor da festa já passou,que espaço sobraria para a população brasileira viver, sentir a Paralimpíada?

 Sofremos dois baques, mesmo antes da realização do evento, que será realizado entre os dias 07 e 18 de setembro.

 O primeiro golpe surgiu quando circulou pela impressa, na semana passada, a colocar em xeque a realização dos jogos. A justiça brasileira resolveu proibir investimento público ou de estatais para a empreitada, até que o Comitê organizador divulgue os seus gastos.

 Desgraça pouca é bobagem. Porque um fato ruim pode ser acompanhado por outro,tão nocivo quanto o primeiro.De quebra,nós ficamos sabendo de outro dado aterrador: muitos atletas que nos representarão não haviam recebido o dinheiro, o repasse destinado a cobrir a quantia referente às suas passagens áreas.

 Na sexta-feira, dia 19 de agosto, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, confirmou o aporte financeiro de 250 milhões de reais, para o cumprimento da  Paralimpíada. Dele,também veio a frase nada animadora.

  Mesmo sem falar em números, Eduardo Paes foi taxativo: “Praticamente nenhum ingresso foi vendido’’. Segundo estimativas, o número de ingressos vendidos não chega a 10% do total dos que foram disponibilizados.

 Desde então, verifico uma movimentação nas redes sociais. Percebo amigos, entidades com respaldo na luta pela inclusão convocarem uma súbita adesão ao feito.

Pretende-se assim haver um incremento na compra das entradas para as modalidades, as inúmeras competições sem quórum,participação da nossa calorosa torcida.

 Mas como de repente chamar a mídia para o acontecimento que aqui ocorrerá?
  
 O apelo das redes sociais, o suplício para uma movimentação repentina para prestigiar a magnitude das Paralimpíadas, para mim tem outro significado. Soa como uma corrente de orações para salvar um paciente terminal, uma vaquinha feita para angariar fundos para uma pessoa a quem estimamos, mas que passa por uma situação de abandono, miséria e penúria.

 Horrível sermos tratados com tamanha desconsideração. Nossos paratletas terão um desempenho magnífico. Contudo, parece que boa parte da população brasileira não saberá disso.

  Não acompanhei nenhuma chamada feita em TV aberta, com o intuito de dar ênfase à participação dos nossos atletas. A TV Brasil vai passar os Jogos, o que é pouco para atingir o grande público. Ao que parece, a transmissão das provas da Paralimpíada não interessa aos grandes grupos de mídia daqui.
  
  Com isso, a importância da internet é multiplicada. Precisamos dar suporte, apoio para que os Jogos Paralímpicos não caiam no esquecimento, no hiato da programação definida pelos barões da nossa imprensa.

 Estaremos juntos dos nossos paratletas,com a incumbência de usar a rede para compartilhar link´s,informes diários sobre o nosso desempenho paraolímpico.

 Transmissão de provas feitas pela internet precisam ser divulgadas, por todos nós.Não vamos deixar que a chama dos Jogos Paralímpicos se apague.Nossa função como agentes da informação será crucial para se formar uma memória coletiva sobre os Jogos.É indispensável que ajudemos os nossos atletas,galera.

 Sigamos juntos na luta pela inclusão.

 Um abraço para todos,


 André Nóbrega.   


13 agosto 2016

A inclusão como forma de paternidade

   Plantar uma árvore,fazer um filho e escrever um livro.Seriam essas as aspirações de todo homem?Por tais critérios, posso falar,estou na contra mão das realizações eternizadas pela máxima.

  Embora tenha participado de uma coletânea de poemas,isso foi feito há muito tempo. Precisei usar um pseudônimo.Portanto,não vale como estreia na literatura.Como menino criado na cidade, o contato com o verde veio pela alface que sobrava do Big Mac.E,com exceção do carnaval de 98,sempre fui um cara precavido.Dificilmente haverá um filho meu espalhado pelo mundo.
  
   Os filhos que pretendo deixar,os melhores capítulos a serem escritos estarão conectados com a nossa causa.Para isso,procuro enternecer as mãos,afiar a alma para semear horizontes.

  Ser pai é uma tarefa ingrata.Os filhos se rebelam,traçam caminhos perigosos,com companhias nem sempre recomendadas,em circunstâncias inusitadas.E os erros não acontecem por falta de avisos.
  
   Erramos pela necessidade de construir uma pedagogia própria, calcada nas experiências acumuladas.Mesmo com o zelo,o aconselhamento paterno,não adianta.Tem alguns tipos de tombos que foram feitos para a gente.São obstáculos fantasiados de escadas, armadilhas feitas para fortalecerem a autonomia dos nossos passos.
  
  Ser militante, defensor da inclusão das pessoas com deficiência nos apresenta uma salada de emoções.De cara,precisamos cultivar os nossos desejos mais salutares.

  Porque os brotos da árvore da acessibilidade crescem desiguais no Brasil.Precisamos a cada dia florescer os princípios da igualdade,justeza de condições com severas doses de convicção.Além de uma generosa convivência com a paciência.

  Sou um marinheiro de primeira viagem,com pouca experiência.Creio no futuro da nossa luta.Quando olho para os ganhos por nós conquistados viro um pai coruja.

 O ano de 2016 tem sido transformador,pois vejo a Lei Brasileira de Inclusão,as Paraolimpíadas como os primeiros passos de uma infância confiante,viva e esperançosa.

 Virão outras fases,outras situações.Quero ser o melhor pai possível,fazer dessa ideia a prática constante do meu melhor.

 Mesmo quando desafiado pela incompreensão,quando a mensagem que eu queira passar estiver ausente da realidade do meu filho,hei de perseverar.A adolescência é assim mesmo.Os desafios da inclusão tendem a se complicar conforme nos debruçamos na luta.

 E munido por esse amor, essa vigilância permanente com tão querido fruto,pretendo acompanhar muitas conquistas.

 Dores de cabeça,frustrações virão aos montes.

 Mas,me diga,existe alguma família que não apresente isso?

 Sigamos juntos na luta.

 Um abraço para todos,

 André Nóbrega.



07 agosto 2016

Todo mundo tem uma Olimpíada na vida



   ‘’Todo mundo tem uma Olimpíada na vida. No final,cada um vai saber se os esforços que fazemos nos tornaram merecedores de ganhar uma medalha de ouro, de prata ou de bronze’’.

  A frase acima foi dita por Walter Casagrande Junior,antes da transmissão do jogo da seleção brasileira feminina de futebol contra a China.O ex-atacante com passagens pela seleção brasileira,eterno ídolo da fiel e um dos líderes da democracia corinthiana,é uma figura muito rica.
   
 Nutro grande simpatia pelo Casão,e não por seus feitos enquanto jogador.Romário,Bebeto e o Ronaldinho fenômeno estão entre os atacantes a quem reverencio.O que distingue o Casagrande é a sua humanidade.

  Somente alguém que superou a angústia,o inferno da dependência química,pode ter a coragem,iniciativa para reconhecer o seu caminho como um percurso de eterna reabilitação.

  É necessária uma humildade incomum,uma clara consciência das suas limitações e compromisso com a possibilidade de recomeçar para ter um posicionamento assim.

 Bom, se antes já admirava o Casa,depois de ouvi-lo dizer essa frase, passei a considerá-lo ainda mais.Porque eu adoro, venero quem diz sim nos contextos de não.
  
 Quem tem uma deficiência luta sempre por um pódio difícil de ser definido, anseia por uma medalha que não chega.Porque às vezes os nossos esforços parecem ficar em vão,o nosso suor não nos conduz a lugar algum.

 Todos os dias nós quebramos recordes invisíveis. Muitas vezes, o simples ato de ir para o trabalho,voltar para casa nos exige um fôlego de maratonista.

  Esse constante diálogo com as dificuldades,esse esforço cotidiano com os obstáculos não nos dá o status de um campeão olímpico.Ser perseverante,focado e ter disciplina para conseguir alcançar os nossos objetivos é um requisito obrigatório.Os patrocínios milionários com marcas esportivas,o tratamento de estrela não serão dádivas comuns ao nosso caminho.

  A nossa Olimpíada está aí,confirmada pela infinidade de barreiras a serem vencidas.As vitórias terão outro tom.Elas serão afinadas com as marcas que conquistaremos ao confirmar a nossa luta.Os reconhecimentos pelos nossos direitos serão o legado ideal,a herança de ouro.Por ela devemos empreender o nosso suor.

  Somos todos atletas no esporte da superação.Nossa história não vai ser marcada pelo valor,a importância das medalhas que conquistaremos,mas pelas contribuições à causa que vamos conseguir deixar.
  
  E cada esforço nosso,toda ação feita em nome da inclusão da pessoa com deficiência vai ter um efeito multiplicador.
  
 Somos 45 milhões de pessoas com possibilidades,desejos e vontade para obtermos muitas vitórias.

  Ao final da sua jornada,quando você se perguntar sobre a sua contribuição dada à causa,em qual lugar do pódio você gostaria de estar?
  
  Precisamos é lutar todos juntos.

 Pois,nesse esporte não contam tanto os feitos individuais.Vale o quadro geral de medalhas, a capacidade que teremos de construir aquilo que talvez seja o maior dos jogos: a consolidação da sonhada sociedade inclusiva.
  
 Sigamos juntos em busca desse objetivo.

  Um abraço para todos,

  André Nóbrega.


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