Existe um lugar onde as barreiras não pesam. Por
lá ,os conceitos de inadequação, falta de acessibilidade e inclusão inexistem.
Ou , pelo menos, são cargas tão inexpressivas, que não me fazem sentir
desconfortável. Pelo contrário, enquanto transito, me locomovo por esse local,é
passada uma carga de amor muito grande.
Falo do pátio da FACHA(a Faculdade Hélio
Alonso), localizado em Botafogo. Quando conheci a faculdade, estava bastante
receoso. Após muito tempo, com mais de 30 anos, iria fazer outra graduação. Por
ser cadeirante, tinha medo de rejeição, de não conseguir me entrosar com a
galera da FACHA.
Estava enganado. O acolhimento foi integral.
Existiu sim um abraço sentido desde a primeira semana de aula, durante os
trotes. E, para falar a verdade, não houve trote e sim uma ligação direta. Fica
até difícil explicar para quem é de fora, mas no pátio da FACHA, a letra da
música ‘ ’Tempos Modernos’ ‘,do Lulu Santos, é absorvida de forma integral.
O começo de um novo começo de era, de gente
fina, elegante e sincera está fixado, inserido no DNA dos alunos, incorporada à
gentileza dos funcionários da instituição.
A pessoa com deficiência vive aprisionada por
preconceitos, é obrigada a enfrentar condições desiguais para quase tudo na
vida. Para aferir correção, tentar nos atribuir um critério possível de nos
classificar, muitos recorrem a siglas, a frieza das catalogações para nos definir.
É tão bom poder ser conhecido pelo nome, ser
considerado pelo que eu sou e não pela falta que tenho. Pois no pátio da
faculdade onde estudo, trabalho, sinto ocorrer isso. E, na boa, não poderia
existir lugar melhor para propiciar um ambiente inclusivo.
Não é o elevador, o piso tátil, o banheiro
adaptado que tornam a minha segunda vivência universitária algo inesquecível. No
pátio da FACHA a integração já está sedimentada, amparada por um ambiente que
considera, entende a diferença, apoia a singularidade dos seus alunos.
Um passeio pelo pátio da FACHA nos permite uma
aula de tolerância. Aprendo assim mais sobre a diversidade do que em qualquer
livro. Lá, o abraço, o sorriso são moedas de troca.
Convivo com essa atmosfera todos os dias. Saio
do campus da faculdade sempre mais leve, pronto para encarar os buracos com
outra disposição. O resgate comigo mesmo, com as minhas potencialidades é
alimentado por essa galera linda da faculdade.
Todos nós merecemos um pátio igual ao que
encontrei na FACHA. Quando estou na faculdade sinto a acessibilidade estabelecida,
determinada como uma prática espontânea, e não como imposição.
Creio que as maiores revoluções, as grandes
mudanças, quando guiadas pelo afeto , alcançam um patamar maior de conscientização .
O pátio da FACHA, com sua irresistível carga
de carinho que me destina, com o volume de empatia inserida todos os dias, é
uma inspiração constante.
Haja esforço, determinação para conseguir surgir
nos outros cantos algo similar, parecido ao que ocorre comigo nesse pátio.
Devagar, nós chegaremos lá.
Um abraço para todos,
André Nóbrega.
André: nós somos muito abençoados por termos você conosco. Acessibilidade não depende apenas das instalações, mas principalmente da atitude das pessoas. Nem tudo está ao nosso alcance, fico feliz por termos alunos que refletem o que nós pensamos.
ResponderExcluirBelíssimo texto André. Já estou com saudades do pátio da FACHA, inclusive foi nesse pátio que te conheci, uma pessoa maravilhosa. Um forte abraço
ResponderExcluirCaroline Lourenço