Nós não temos a obrigação de
sermos exemplo para ninguém.Muito menos,devemos sustentar o fardo contínuo de
servirmos como inspiração para os outros.Sim,porque a conta nos pesa,bate de uma
forma bastante desigual.
Pois, se para realizarmos as tarefas mínimas,indispensáveis para nos prover cidadania e dignidade é necessário um esforço
gigantesco,isso ocorre devido a precariedade dos serviços,das ações do Estado
capazes de nos auxiliarem.
Queria utilizar menos esforço para andar pelas
ruas do meu bairro.Queria transitar por aí,pegar ônibus,aproveitar a
noite revestido por algumas seguranças.
Seria lindo me locomover pelas ruas do Rio de
Janeiro em paz,sem olhar para os buracos.
As minhas opções de lazer ficariam
enriquecidas caso os gestores culturais tivessem sensibilidade ao tema.
Para obter uma rotina produtiva o meu esforço
será maior.Essa força a mais para realizar tarefas simples é uma condição
necessária para sobreviver.
Contudo, o que costuma impressionar as pessoas
não é falta de igualdade das oportunidades que sofro,mas sim o esforço fora do
comum necessário para executar tarefas que deveriam ser simples.
O foco está errado.Ao invés de enxergarem o
problema como um todo,muitos preferem exaltar parte da questão que nos atinge.
Para nossos amigos, parentes e conhecidos,por
uma questão de carinho,genuína admiração,é comovente acompanhar o nosso esforço
para participamos da vida.
Porém,o problema é quando essa mesma visão
atinge a mídia,o modo como o mundo nos vê.
Antes de ser um guerreiro,eu sou um cidadão
brasileiro.Alguém com direitos e deveres garantidos,mas com outras capacidades que precisam ser reconhecidas,também.
Nem todo caminho precisa ser cumprido com o
fervor,o fôlego de um maratonista.Se muitas vezes o cotidiano nos detona o
corpo,faz com que tenhamos a persistência como um pré-requisito obrigatório,é
porque não possuímos tantas escolhas para vivermos.
E,para ser sincero,eu não
tenho muita paciência em habitar o status de exemplo,cultivado na mente de
tanta gente que admiro.Ao construírem um altar,e
fixarem o suor como algo sacro,eles se esquecem,por exemplo, do que é
necessário fazer para melhorar as coisas.
Como confiam demais nessa força de superação, acham
que sempre haverá uma mitológica maneira de passar pelas dificuldades. Isso
pode ser verdadeiro para o Indiana Jones,o James Bond ou para o super-homem.
A maior inspiração é a luta
pela integração da pessoa com deficiência.
Para quem insistir em nos colocar num degrau acima,para os que teimam em nos atribuir dons extraordinários e esquecem de
considerar aquilo de mais básico do que nos falta,recomendo somente isso:a
leitura de autoajuda e a ida ao cinema somente para verem filmes açucarados.
Por favor,a realidade não é
assim.
Um abraço para todos,
André Nóbrega.
Muito bom, De! Tb torço por uma cidade em que pessoas com deficiência exercendo seus direitos não sejam raras ou exemplo, mas comuns cidadoes como todos demais!
ResponderExcluirAdorei o texto e a reflexão!
ResponderExcluirSensacional André! Muito muito muito bom!
ResponderExcluirabraços do amigo
Cadu Fávero