O sábado à noite é um tempo peculiar, feito
para estarmos com quem gostamos. O dia frio ,para os casais cúmplices do seu
afeto,serve para fixar aquela dimensão prazerosa do aconchego .
Bom para quem está nessa. Não é o meu caso. Caso
contrário, lhes garanto, não estaria aqui elaborando esse texto.
Estar solteiro é bom quando é uma escolha. Fica
danoso quando se torna um hábito. Pior é quando fica nítido constatar que muito
dessa solidão provém da minha deficiência.
Para melhor explicar, alguns aspectos sociais
ficaram prejudicados com a minha lesão. Sempre gostei de ler ,acumular
informações acerca de variados assuntos, e,por consequência,bater um bom papo.A
minha capacidade de seduzir sempre dependeu da palavra.
A voz, o equilíbrio, e a coordenação motora
fina foram as regiões mais afetadas pela mal conhecida e perigosa Síndrome de
Miller Fisher. No início da minha lesão, como tática de paquera, sem a voz de outrora,
não sabendo como me virar como cadeirante, resolvi adotar a canalhice como modus
operandi para a conquista.
De forma intencional,quando
ia para uma festa,para algum lugar onde não fosse conhecido, eu estacionava a
minha cadeira de rodas num canto.Depois,fazia uma cara de cachorro
abandonado.Não demorava muito para chegar uma alma caridosa ,e perguntar:”O que
houve com você?”.Ou mesmo o clássico:’’Tá tudo bem contigo?’’
Visto que a clareza da fala não era lá essas coisas, tornava-se fundamental uma aproximação da moça, para eu poder explicar com minúcia de
detalhes o meu drama infindável.Nossa,eu mentia bem .Falava que havia acordado
diferente,com a certeza de que naquele dia eu conheceria alguém capaz de mudar
a minha vida.
Aceitei ser um cadeirante
objeto numa boa. Acolhi a aproximação das desconhecidas sem problema algum, através
de uma armadilha ensaiada. A soma da cara coitado com a minha história triste, contada
ao pé do ouvido, foi uma tática vencedora.
Na
cadeira todos esperavam uma reação X de mim. A partir daí, ficou mais fácil
estabelecer um papel como defesa.Com o andador, o olhar dos outros é fixado
por uma indefinição. Por não ser cadeirante, nem andante, a falta de capacidade
de me rotular talvez confunda.
Acontece que a necessidade
de estabelecer laços íntimos é uma necessidade saudável,comum a todos nós.
Tenho dificuldades de chegar nos lugares e nas
mulheres que não conheço.O olhar desqualificador,de pena, anestesia boa parte
das minhas ambições.
Talvez,também esteja
problematizando demais a questão.Será tudo culpa do frio???
Agora é o tempo para descobrir outras
possibilidades de conquista para o andador. Embora sejamos muito mais que o
objeto utilizado para nos locomover.
Para o deficiente físico a cadeira de rodas, o
andador, a muleta, ou bengala é parte integrante,fundamental ao nosso cotidiano.
Contudo, se vamos conviver
com um utensílio essencial para a nossa sobrevivência, por que também não
atribuir um caráter menos formal,válido inclusive para paquerarmos,ao nosso
meio de transporte?
Descobri que a cadeira de rodas é ótima para
dançar forró.Na semana passada eu consegui dançar funk com o andador.
Espantei metade da pista com
a ousadia. Preciso pensar em outras situações.
Já é um começo.....
Um abraço para todos,
Esse André é Malandro...
ResponderExcluirAndré, parabéns por extrovertir a realidade num aspecto que considero íntimo. A confidência dilui a severidade da consciência, é o que percebo quando consigo compartilhar a minha vulnerabilidade. Você nos conta com inteligência e habilidade. Torço por você num feliz amor correspondido. Bjs!
ResponderExcluirDeborah Geller