04 junho 2016

O que a Nise da Silveira pode nos ensinar.

 O Brasil passa por uma crise de representatividade. Na atual conjuntura, qual a grande liderança nacional capaz de angariar qualidades fortes o suficiente para nos orgulhar?A situação de descontentamento não é privilégio da nossa classe política, grupo com o qual já mantemos há algum tempo um sentimento de desagravo.

 Na antiga terra do futebol, na seleção do pós 7 a 1 você consegue identificar no time do Dunga muitos jogadores com o futebol grandioso para nos fazer acompanhar os jogos do time da CBF com algum interesse?

 Triste é o país que depende das ações de um juiz, que aplaude com fervor as ações de uma operação contra os mal feitos da política como se fosse uma cruzada consagradora, capaz de lavar todos os pecados cometidos por aqui desde a chegada de Cabral,em 1500.

 Cada vez mais eu busco o exemplo de figuras do nosso passado. Tivemos sim pessoas que atuaram como autênticos multiplicadores de sonhos. As sementes plantadas por esses tesouros é tão sólida que precisa ser reforçada.O esforço contínuo para a perpetuação da obra por eles deixada tem que haver.

  Por que,afinal,a herança deixada por avatares como Rubem Alves,Tom Jobim e Darcy Ribeiro deve ser esquecida?Em tempos incertos, caracterizados pela falta de justeza moral, pela desconfiança geral quanto aos rumos do nosso país, não ter uma liderança em quem confiar já é algo temeroso. Teremos perdido a capacidade de construir futuros transformadores da realidade?

  A psiquiatra Nise da Silveira, através do revolucionário trabalho realizado pelo ‘’Museu do Inconsciente’’, deu outra dimensão ao modo como os manicômios brasileiros tratavam os seus pacientes.

 O filme “Nise-o coração da loucura’’,dirigido por Roberto Berlinder,é uma aula de humanidade.A história nos coloca em contato com uma sensação diariamente minada pelos massacrantes telejornais.Depois de assistir o filme é possível voltar a ter orgulho de ser brasileiro.

  O filme começa em 1944, ano no qual Nise da Silveira é reintegrada ao serviço público, no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II.Nise,de imediato,se defronta com a conduta brutalizada,desumanizada vinculada aos internos da instituição.Eletrochoques,lobotomia eram práticas permitidas,avalizadas pela psiquiatria então vigente.

  Transferida para a Terapia Ocupacional, um setor esquecido,tratado como área de pouca relevância pelos médicos do Centro Psiquiátrico ,Nise inicia os seus trabalhos.

  Ao invés de executar pura e simplesmente tarefas de limpeza, manutenção do lugar, a psiquiatra cria ateliês de pintura e modelagem para que todos os pacientes se expressassem da forma que melhor lhes conviesse.

 Um canal de extrema evolução foi aberto. Pessoas segregadas, sem terem a menor chance de poderem se manifestar, de conseguirem dialogar ,estabelecer com a vida uma forma de expressão, passaram a obter um canal de estímulo.

 A falta de acessibilidade muita vezes nos isola. A dificuldade que temos para viver, trabalhar e nos divertir, muitas vezes nos desanima. Se essa sensação evoluir muito, acabamos por optar pela comodidade do lar,por não participarmos da vida como poderíamos.

 Pelo fato das dificuldades aparecerem de forma mais contundente, podemos enfim perder o ânimo, depois,não suportamos os pesos trazidos por tantas diferenças. Diante de um contexto tão desfavorável, não lutarmos por nossa cidadania e acharmos normal sermos excluídos do processo de inclusão passa a ser algo automático.

 Nise da Silveira construiu uma estrada para quem parecia inutilizado, e se mantinha hibernado no limbo da existência. Os pacientes da instituição, antes de conhecê-la,em muito se assemelhavam com animais abandonados,entregues à própria sorte.

 Mesmo com tantas oportunidades desiguais, não podemos entrar na armadilha do confinamento. Sabemos o quanto a efetividade dos nossos direitos passa por uma luta permanente.

  Não podemos desistir. E,muito menos, abdicarmos de encontrar as habilidades, os talentos capazes de nos distinguirem. Não é somente a falta,a desigualdade, o valor único que nos inspira.

 Queremos mostrar ao mundo o quão talentosos podemos ser.Com mais oportunidades,com certeza surgirão entre nós números artistas,médicos,atletas.

 Sobretudo,haverá a possibilidade para que pessoas plenas da sua capacidade possam aparecer.

 Nós podemos mais.

 Tem dúvidas disso?

 Por favor,então veja o filme ‘’Nise-o coração da loucura’’ e se junte a nossa corrente.

 Um abraço para todos,

 André Nóbrega.


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