12 junho 2016

A solidão pode ser uma deficiência.

   Para quem quiser ouvir uma história romântica, recomendo ouvir alguma coletânea do Roberto Carlos, ou mesmo, uma lida pela obra do poeta Vinícius de Moraes.

  Hoje muitos comemoram o dia dos Namorados. A minha sintonia com a data é a mesma de um ateu órfão na ceia de Natal. Não existe muito que comentar sobre isso.

 Porque calhou da semana de provas cair na faculdade logo nessa semana que começa.Portanto,a minha paixão é destinada somente aos livros.Vivo um caso de amor desmedido,inevitável com o saber.Nem sinto falta da mulher amada, a me chamar para a coberta.

 Vivo casado com uma causa. Ela me absorve de tal maneira, me preenche com tanta felicidade, que os prazeres e alegrias do amor pouco me atraem. Ainda que isso signifique uma frustração para tantas mulheres, todas sedentas, dispostas a me conhecerem.

 Mesmo sem ser o Papa, já me acostumei com a castidade exigida pela cruzada da inclusão. Para me dedicar de corpo e alma à luta pela acessibilidade, decidi inibir os meus desejos. Tal sacrifício não será em vão . Se isso já valeu para os santos, por que não se aplicaria a mim também?

  Já fiz tantos versos para alimentar histórias de afeto. O percurso sentimental foi até bem preenchido. Não tem razão para lamentar a data de hoje. É apenas um empreendimento comercial, bancado pela indústria de chocolates, pelo poderoso lobby dos floricultores e pela implacável associação das indústrias de cobertor para dois. Já li no facebook umas cinco teorias sobre isso.
  
 E, na boa, vou reclamar de quê??Com NetFlix,comida congelada e tantos livros para serem lidos,como eu posso me sentir sozinho?
  
  Agora me confundi. Hoje é primeiro de abril ou dia doze de junho?Sei lá, com as provas, tanta matéria por estudar, eu posso me confundir. Daí, seria perfeitamente comum eu misturar as estações, visto que o meu humor está azedo que nem limão estragado. Preciso separar bem as datas do meu calendário.

  Porque não tem desculpa, nem mimimi.Vou à caça,dar a cara à murro e fazer o possível para ano que vem mudar o meu estado civil.Porque a solidão pode ser uma deficiência.

 Estar sozinho pode virar uma conveniente muleta.Principalmente se acreditarmos que vivermos sem compartilhar nossos momentos é uma imposição do destino,uma consequência vinda junto com as limitações com as quais nós precisamos conviver.

 Portanto, começamos a existir regidos por um princípio da negação.Quanto mais crédito darmos a essa crença,mais aprisionados ficaremos.

  Ficar em casa contra a vontade é sempre um castigo. Ainda que não possa transitar pelos lugares como gostaria, ainda que a falta de acessibilidade seja um empecilho para eu me divertir, predomina de forma mais intensa a vontade de conhecer uma cabrocha, capaz de percorrer comigo intensas avenidas.

  Fazer mais com menos. Não posso correr, nem falar como antes. Porém, cativar as pessoas não é uma coisa tão difícil.

 Talvez,eu esteja construindo barreiras. Com isso, também impedi que pessoas interessantes se aproximassem.

  Porque a fase de adaptação da realidade, mudança drástica de hábitos já passou. Enfrentamos muitas dificuldades em nosso cotidiano.Contudo, podemos ser viajantes solitários, ou tentarmos embarcar numa navegação a dois, rumo a continentes ainda não identificados.  

 Temos sempre a chance de construir inúmeros dias e noites dos namorados inesquecíveis.
  
Um abraço para todos,


 André Nóbrega. 


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