Para quem quiser ouvir uma
história romântica, recomendo ouvir alguma coletânea do Roberto Carlos, ou
mesmo, uma lida pela obra do poeta Vinícius de Moraes.
Hoje muitos comemoram o dia dos Namorados. A
minha sintonia com a data é a mesma de um ateu órfão na ceia de Natal. Não
existe muito que comentar sobre isso.
Porque calhou da semana de provas cair na
faculdade logo nessa semana que começa.Portanto,a minha paixão é destinada
somente aos livros.Vivo um caso de amor desmedido,inevitável com o saber.Nem
sinto falta da mulher amada, a me chamar para a coberta.
Vivo casado com uma causa. Ela me absorve de
tal maneira, me preenche com tanta felicidade, que os prazeres e alegrias do
amor pouco me atraem. Ainda que isso signifique uma frustração para tantas mulheres,
todas sedentas, dispostas a me conhecerem.
Mesmo sem ser o Papa, já me acostumei com a
castidade exigida pela cruzada da inclusão. Para me dedicar de corpo e alma à luta pela acessibilidade, decidi inibir os meus desejos. Tal sacrifício não
será em vão . Se isso já valeu para os santos, por que não se aplicaria a mim
também?
Já fiz tantos versos para alimentar histórias
de afeto. O percurso sentimental foi até bem preenchido. Não tem razão para
lamentar a data de hoje. É apenas um empreendimento comercial, bancado pela
indústria de chocolates, pelo poderoso lobby dos floricultores e pela
implacável associação das indústrias de cobertor para dois. Já li no facebook
umas cinco teorias sobre isso.
E, na boa, vou reclamar de quê??Com NetFlix,comida
congelada e tantos livros para serem lidos,como eu posso me sentir sozinho?
Agora me confundi. Hoje é
primeiro de abril ou dia doze de junho?Sei lá, com as provas, tanta matéria por
estudar, eu posso me confundir. Daí, seria perfeitamente comum eu misturar as estações,
visto que o meu humor está azedo que nem limão estragado. Preciso separar bem
as datas do meu calendário.
Porque não tem desculpa, nem
mimimi.Vou à caça,dar a cara à murro e fazer o possível para ano que vem mudar
o meu estado civil.Porque a solidão pode ser uma deficiência.
Estar sozinho pode virar uma conveniente
muleta.Principalmente se acreditarmos que vivermos sem compartilhar nossos
momentos é uma imposição do destino,uma consequência vinda junto com as
limitações com as quais nós precisamos conviver.
Portanto, começamos a existir regidos por um
princípio da negação.Quanto mais crédito darmos a essa crença,mais aprisionados
ficaremos.
Ficar
em casa contra a vontade é sempre um castigo. Ainda que não possa transitar
pelos lugares como gostaria, ainda que a falta de acessibilidade seja um
empecilho para eu me divertir, predomina de forma mais intensa a vontade de
conhecer uma cabrocha, capaz de percorrer comigo intensas avenidas.
Fazer mais com menos. Não posso correr, nem
falar como antes. Porém, cativar as pessoas não é uma coisa tão difícil.
Talvez,eu esteja construindo barreiras. Com isso,
também impedi que pessoas interessantes se aproximassem.
Porque a fase de adaptação da realidade,
mudança drástica de hábitos já passou. Enfrentamos muitas dificuldades em nosso
cotidiano.Contudo, podemos ser viajantes solitários, ou tentarmos embarcar
numa navegação a dois, rumo a continentes ainda não identificados.
Temos sempre a chance de construir inúmeros
dias e noites dos namorados inesquecíveis.
Um abraço para todos,
André Nóbrega.
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