Em
tempos de crise econômica, recessão, voltam ao glossário das notícias, dos
jornais, vocábulos um tanto incômodos, maléficos para o cotidiano comum a momentos de prosperidade.
No
lugar do pleno emprego, da inclusão através de políticas sociais afirmativas,
como o exemplo consagrado surgido, a partir do advento das cotas, tornam a ter
destaque, no ritmo , na vida das pessoas, os agravantes trazidos pela escassez
de emprego.
A
falta de vagas configura um problema crônico, flagrante e comum não só a
memória, como também, a construção de futuro do país. Porém, analises conjunturais
à parte, parto aqui para o que interessa, configura o eixo temático principal
desta coluna. Como o mercado profissional enxerga a inclusão da pessoa com
deficiência?
Por
experiência própria, posso revelar um dado perverso: nas agências de emprego,
as vagas oferecidas atendem a um perfil, a um tipo de função diferente da que
poderia executar. Os trabalhos no almoxarifado exigiriam um esforço físico
desproporcional , em desalinho com a minha condição, por que requeria movimentos,
ações desaconselháveis a alguém com dificuldade de locomoção. E também, para aquele que
necessita de um trabalho permanente, exaustivo de reabilitação para prover
melhoras, na minha condição.
Ressaltar o esforço de inclusão feito, insuficiente ainda para atingir um número considerável de pessoas com deficiência. Bem comum haver um
tratamento uno, generalista, um tanto quanto paternal, vindo do mercado de
trabalho.
Falo especialmente da tendência a tratar todas
as deficiências como sendo uma coisa só. E como consequência, as
resoluções dadas para a questão mereceriam sempre a mesma abordagem. Sempre o
único, preguiçoso desenlace para uma questão múltipla, por excelência.
Oferecer
a mesma vaga de emprego, como auxiliar de escritório, para quatro candidatos.
Um com baixa visão, o outro com nanismo, o terceiro com deficiência física, e o
último, com deficiência neurológica. Todos reunidos pelo mesmo motivo, a mesma
questão. Por atenderem aos requisitos da sigla pcd. Sinceramente...Isso é muito
pouco.
Para
complicar tudo a mídia nos faz um desserviço . É imbatível a ânsia, o apelo em
querer nos retratar como super-heróis. Como seres imbatíveis, acima e além de
qualquer intempérie, esforço ou contratempo.
Quantas
vezes você viu a notícia do cadeirante formado em Direito? Da vestibulanda com
um tipo peculiar de autismo , capaz de coloca-la, orná-la a uma condição
intelectual de um gênio, porém, recém-egressa de uma peneira dificílima, como é
a regra, a lei, para entrar numa faculdade de medicina? A mensagem subliminar é
clara: não é tão difícil assim para gente obter êxito, vai? Basta sermos guerreiros superdotados, com QI,
capacidade de registro, arquivamento de imagens superior ao de um computador.
Ou
então, quem sabe, entrarmos para o ‘’agronegócio’’’, passamos a agir conforme a natureza,
o comportamento de um laranja. Do famoso ‘’Queiróz’' , presente no mais alto, nobre escalão, da nossa trágica, combalida república...
Só
que não...Ainda é possível, palpável buscar uma integração ao mercado plena,
proporcional as nossas limitações, mas ao alcance, no tamanho, na medida certa
do tanto de talento, valor e encantamento de que poderemos oferecer a sociedade.
Sim,
por que, como diria a letra dos Titãs: a gente não quer só comida, a gente quer
bebida, diversão, ballet.. A gente quer saída, para qualquer parte.
Um
abraço para todos,
André
Nóbrega.
Amigo querido, que delícia ler suas sábias palavras. Você tem o dom da escrita, mas não apenas isso, com suas reflexões relevantes você conseguiu deixar sua perspectiva bem clara. Pude enxergar usando o seu par de óculos, e nunca havia pensado dessa maneira. Obrigada por me permitir isso. Trouxe muita luz à essa problemática tão importante. Muito obrigada por compartilhar esse texto lúcido. Abraços!
ResponderExcluirA falta de gestores portadores de deficiência, a falta de conhecimento por parte dos recrutadores, a falta de interesse e empatia do mercado em aproveitar os talentos perdidos que pessoas PCSs têm provocam esses tipos de situações
ResponderExcluir. A diversidade e o pensamento heterogêneo traz muitos benefícios para o negócio, mas há a necessidade de ter vontade de sair da zona de conforto e fazer diferente, fazer melhor, fazer inclusão de verdade.
Parabéns André!