André Nóbrega
-Deus
só dá a cruz a quem possa suportar!
-Você é um exemplo de superação!
-Sem querer ser mal educado, mas
você ficou assim como??
As barreiras, os entraves visíveis,
a fazerem parte do cotidiano são meio óbvios, fáceis de serem identificados. Mesmo
para o observador incauto, desatento as questões comuns, específicas as pessoas
com deficiência, difícil não perceber a irregularidade das calçadas.
Não
notar a falta de estabilidade trazida, causada pelo calçamento irregular das
cidades brasileiras. Aqueles de bom tato, afeitos ao exercício da cidadania, o
desrespeito as vagas especiais também configura, aponta um caso claro,
esdrúxulo, de falta de sensibilidade, respeito aos nossos direitos.
Contudo, existe um fato mais difícil
de mensurar, causado pelo impacto de certas falas. Persiste, na repetição de alguns
dizeres, ditos a exaustão, a expressar um lado um quanto perverso da questão.
Falo aqui da total indiferença, despreparo, no âmbito coletivo, de como o nosso
sentimento é considerado.
Sim,
meus queridos e queridas, pois, no peito desafinado de uma pessoa fora do
padrão físico, com Down, autismo, baixa visão, também bate um coração. Com
total reverência, orgulho e gratidão a obra deixada por Tom Jobim e Newton
Mendonça.
Quando se reduz a complexidade de uma
deficiência a uma espécie de tabuleiro cósmico-missionário, coloca-se um desvio
para o tema. Falar de um fardo pesado demais para ser carregado, com um peso
tamanho, incômodo, me coloca então, pelo raciocínio levantado, como alguém a
ser crucificado.
Nem como cruz, muito menos como
mártir. O decantado lugar do exemplo não revela uma obviedade. O esforço em
excesso para realizarmos tarefas simples, cuja mera execução exige um suor,
uma entrega maior, revela um ponto essencial. Para deixar a discussão principal
subtendida, posta em escanteio.
Deficiente é o espaço, o lugar
incapaz de prover condições mínimas para circularmos, gente. Para estarmos na
pista, participarmos da vida, é inevitável enfrentarmos alguns perigos,
entraves e obstáculos.
O saldo disso nem sempre é heroico,
garanto. Muitas quedas, tanto com relativo, ou alto grau de perigo, risco ao meu
bem-estar, mas....Fazer o quê? O chamado das ruas, de brinde, possibilidade de
encontros, festas, sobrevive, forte...Nessas calçadas ainda pontuadas pela
dificuldade em me locomover.
Quanto
a tara, obsessão, em querer saber como a condição da deficiência surgiu,
apareceu em nossas vidas, nenhum comentário a fazer. Creio, acredito piamente na
evolução do indivíduo, durante o ruminar da sua jornada .
Enquanto o mundo ideal, o éden da
acessibilidade universal não é estabelecido, que tal reformular alguns questionamentos
básicos, no trato, no convívio com as pessoas com deficiência?
Um abraço para todos.
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