Não creio ser culpa, reflexo do politicamente
correto. Fato é que predomina, digamos assim, um cuidado(para sermos
elegantes), na hora da sociedade nos classificar. Afinal, sem rotular, taxar
julgamentos rasos, imprecisos, como denominar aquilo que ousa, teima em fugir
do padrão?
Os desvios, as fixações neuróticas,
com vias de estabelecer um modelo de conduta sexual, um pensamento político
hegemônico, configuram uma vertente da psicanálise, da qual nem conheço muito,
pela teoria. Contudo, os dez anos como deficiente permitem elencar algumas
observações, comentários sobre tal tendência.
Essa
ânsia incontida de não aceitação, de cravar um modelo reinante, quanto ao
padrão físico ideal, o tom de pele, a raça. Qualquer um nasce com uma dádiva,
um dom da vida, para revertermos as expectativas implantadas, em razão de um
pensamento ocidental excludente, seletivo, secular e racista, por natureza.
Sendo
branco, vindo de uma família com recursos, de fato, demorou a ter noção,
ciência da perversidade desse sistema. Precisou uma lesão neurológica
devastadora, na potência, força dos meus 30 anos, para entender algumas
verdades fundamentais.
Dois
anos depois disso, quando, graças a muita fisioterapia, esforço, decepções,
dores, consegui ter forças para tocar a cadeira de rodas sozinho, na rua, me
veio uma sensação devastadora: eu havia perdido o direito de ser reconhecido,
chamado pelo nome.
Pouco
importava ao outro se eu tinha formado em cinema, trabalhado como crítico de filmes, e sabia de cor o repertório do Molejo, É o tchan e do grupo Sorriso maroto. O
aspecto, o contorno fundamental, para tantos olhares, passou a ser uma cadeira.
E por um bom tempo deixei de ser André, sem a princípio saber muito o porquê
disso.
As
siglas também apresentam uma tonalidade canalha, um tanto quanto funesta. Ao
reduzir as particularidades, talentos de alguém a um conjunto de letras, ocorre
uma morte. São sepultados os traços do sujeito, em nome de uma categorização
aceitável, crível quando para pesquisas de dados, acerca das características,
tipos de deficiência. Em amostragem como o IBGE realizou, em 2010.
Além desse contexto, com certeza, no indicativo feito para as vagas de trabalho, os assentos nos
transportes coletivos, cabe o uso da sigla. Para toda a sorte, ordem de direitos
sociais por nós adquiridos. Com exceção disso, por que cair ainda na mesma malha
fina, deste terreno pantanoso? Um hibrido, formado pela ausência de sensibilidade
crônica, déficit de bom senso e espírito de porco mesmo. Vamos dar nome aos
bois, suínos, burros e nos deixar livres da obrigação, dessa mania baixa em
quererem nos reduzir.
A
partir de agora, ao invés de cadeirante, pcd, portador de necessidade especial,
pode tentar algo tão inovador, quanto essencial?
Nos
chame pelo nome!!
Um
abraço para todos.
André
Nóbrega
Foto tirada pela querida, talentosa produtora cultural, atriz e música Natália Lebeis.
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