São inúmeros os esforços computados, as pautas, nos quais a luta pela inclusão é localizada. Seja qual for o enfoque, o ponto de vista privilegiado, haverá sempre uma carência enorme, um universo a ser preenchido, para a mínima realização dos nossos objetivos.
Por
lidarmos com a falta, o abandono, nas situações mais básicas e elementares, o
foco da nossa militância costuma ser abrangente . A solução para o que nos
sangra depende sempre de um todo, espécie de ser indeterminado, que poderia ser
um governo, um Estado com a preocupação de nos atender, de forma justa .
Ao nos depararmos com um buraco, no meio de
uma calçada, temos por instinto, pensamento imediato, apenas desviar, para
garantir proteção. Não nos ocorre que o poder público, alguma iniciativa possa,
de imediato, reparar aquela situação.
Por
que, de certa maneira, os problemas a nos atingirem, ocorrem pela reconhecida
falta de estrutura, planejamento do governo brasileiro a cumprir as suas
funções mais elementares.
Circulação
nas cidades falha, perspectiva de inclusão profissional prejudicada, por um
mercado a nos olhar com distanciamento, incredulidade. Absoluta falta nos
dispositivos culturais, nos cinemas, exposições em disponibilizar acesso
universal. Com certeza, você pensou em outros itens, para continuar essa lista .
Mas e pra namorar, como fica?
Numa
sociedade a privilegiar o culto ao corpo, a estabelecer padrões insustentáveis
de beleza, não ficaria uma pessoa com deficiência em desvantagem, frente as possibilidades
de paquera, encontros românticos a acontecerem, conforme o passar do tempo?
Saímos
em condições diferentes, adversas, de uma pessoa comum, com certeza. Primeiro,
pela falta de condições em desfrutarmos das festas, dos shows, numa forma
razoável, tranquila e aprazível. Dificilmente, em tais momentos haverá uma
acessibilidade mínima, aceitável, para podermos paquerar.
Nas
noites, o olhar dirigido a alguém com deficiência costuma variar, muito. Vai de
uma estranheza abusiva, um deboche total, a um sincero sorriso de admiração,
não raro vindo por um pensamento: ’’caramba, no meio de tanta gente, num lugar
cheio , difícil de circular, o cara vem aqui e se diverte?”.
É
bastante complicado chegarmos num lugar assim, numa boate, sendo a única pessoa
com deficiência presente ao recinto. A princípio, dá vergonha, inibição. Somos
observados com um ímpeto julgador acima do normal, do razoável. Porém, o que
pesa mais? O olhar de estranhos, ou a específica vontade sua, de conhecer outras
pessoas, se divertir?
Lidar
com uma deficiência é um processo de negociação interna constante. Implica em
aceitar-se como diferente, assumir os ônus disso com uma sinceridade crua. E no
final de tudo,talvez, tal recurso não seja de todo ruim.
Fazer
das suas peculiaridades uma assinatura, um jeito de se impor, frente a uma
sociedade padronizada. Em dado momento, você não refuta tanto o que o torna
diferente dos outros.
A
coragem necessária para um cadeirante atravessar a rua não se assemelha, nem tem a ver, com o impulso tido ao iniciarmos um relacionamento. É menor, exige menos do que o despojamento em querer prosseguir, num namoro. Dar vazão e status de compromisso, para um flerte iniciado.
Perdi
muitas chances de amar no exercício salgado, punitivo, incerto, de querer
poupar a fulana das dificuldades, os entraves comuns a alguém na minha
condição...Mas a mulher já não havia me escolhido? De certa forma, ter
concedido, por um momento, a chance de percorrermos juntos os dissabores e
alegrias de um possível ensaio de história?
Não
sei, não foi dada a nenhuma delas essa chance de prosseguir.
Creio
que dentre todas as dificuldades impostas pelo mundo, o meio a nos cercar, a
maior seja a de nos aceitar . Maior coragem, sem dúvida, é a de apesar de tudo,
com toda injustiça de oportunidades oferecidas, as condições desfavoráveis, ainda elegermos o amor como
busca.
Com
quarenta anos, solteiro, sem filhos, com os filtros da sensibilidade, da
percepção, em plena atividade, eu quero crer cada vez nessa estrada do afeto.
Apesar de muitas vezes a existência nos jogar pra baixo, com impedimentos,
impossibilidades de êxito, nas construções de vida mais rudimentares.
Por
que se não fugimos dos castigos impostos por algumas leis, nunca sairemos
impunes, da palavra de certos poetas.
E
Carlos Drummond de Andrade nos ensinou que: ‘’amar só se aprende amando’’.
Um
abraço para todos,
André
Nóbrega.
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