Kajiado, Quênia – É preciso conhecer alguns fatos básicos acerca de Zackary Kimotho.
Primeiro, Zack, como é mais conhecido, é um nome extremamente incomum no Quênia, o que conferiu certo grau de curiosidade e respeito a Kimotho.
Segundo, ele era um promissor veterinário queniano especializado em grandes animais, perito em diagnosticar pneumonia em ovelhas e tirar a temperatura de camelos, uma tarefa não muito fácil nem particularmente bela de executar. Porém, tudo teve um fim prematuro certa tarde nos arredores de Nairóbi, quando seu automóvel foi roubado e ele levou um tiro no ombro, ficando paraplégico.
Terceiro, ele está tentando viajar numa cadeira de rodas de Nairóbi à Cidade do Cabo, África do Sul, uma jornada de quase quatro mil quilômetros, atravessando alguns dos países mais pobres do mundo, buscando arrecadar US$ 3 milhões para um tremendamente necessário centro de reabilitação da medula espinhal no Quênia.
Cada vez é maior o número de quenianos cujas colunas foram quebradas em acidentes de micro-ônibus, os quais chegam a matar 20 pessoas por vez, ou são baleadas durante assaltos e terminam paralisadas, sem que exista no país um local dedicado à reabilitação da medula espinhal.
Essa é a causa de Kimotho.
Depois de partir há mais de 20 dias, ele avançou cerca de cem quilômetros. O primeiro par de luvas já se desgastou e os ombros doem. Nesse ritmo, rodando cerca de cinco quilômetros por dia, ele levaria mais de dois anos para chegar até o extremo da África.
No fim de junho, enquanto recuperava o fôlego sob uma sombra, Kimotho falou: 'Cara. Alguém tem água?'.
A jornada de Kimotho elevou o astral desta terra, onde as pessoas estão ávidas pela história de um 'Rocky' local, afastando-se da política étnica e temores do terrorismo que têm dominado as manchetes ultimamente.
Praticamente todo queniano parece conhecer Kijana Zack, como alguns o chamam, o jovem Zack, em resultado de uma eficiente campanha de marketing paga pela Safaricom, uma das principais operadores de telefonia celular do país, entre outros patrocinadores corporativos. Seu site, www.bringzackbackhome.com (traga o Zack para casa), faz o trajeto parecer quase um safári, com uma imagem dele rodando ao longo de uma estrada pitoresca cheia de acácias e montanhas verdes nebulosas crescendo na distância.
Num dia recente, a cidade de Kajiado inteiro saiu às ruas para saudar a chegada de Kimotho, reunindo desde velhos balançando os tradicionais tacapes cheios de pontas afiadas a milhares de crianças se acotovelando para dar uma olhadela no homem pequeno e bonito, de olhos cor de cobre, pernas fininhas e braços grossos rodando rua abaixo.
'Decidimos deixar as crianças saírem da escola para ver isto', afirmou Esther Ipite Nchani, da secretaria de educação. 'Ele está sozinho e tenta salvar muitas vidas. Quando as crianças crescerem, vão se lembrar disto.'
Se nos liberássemos dos nossos egoísmos e deixássemos de criar muitas limitações o mundo seria melhor e prático.A exemplo deste corajoso e digno jovem.
ResponderExcluirAdriana- Aracaju-Sergipe