25 junho 2016

Todo militante ativista é um pouco mendigo.


  Amigos leitores,se tem uma coisa perturbadora, capaz de sempre me fazer alimentar um sentimento de negatividade quanto ao destino da raça humana, isso tem a ver com o aumento da população de rua. 


    Pior do que qualquer buraco, ou pedra portuguesa estirada pelo chão, é encontrar pelas madrugadas os corpos mal encobertos por cobertores curtos, comprimidos e entregues a sabe lá de Deus que tipo de sorte.

 Em comum com os mendigos,com a população maltrapilha que se espalha por todas as cidades, há o sentimento de exclusão. 

  Ainda que a comparação seja injusta, indevida em muitos aspectos, consigo pontuar com clareza alguns aspectos que nos unem. Pois, o sentimento de estar desconjuntado, fora do ritmo da vida, ainda me assola. 

  A pessoa com deficiência no Brasil rema contra uma maré constante de dificuldades. Para exigir coisas básicas, como poder circular pelas ruas,ter direito a melhores condições de trabalho,nós sofremos com a visão tacanha da política.Muitas vezes,ficamos submetidos a ações do governo que têm o mesmo efeito de uma esmola. 

Estar invisível, pouco afeito ao processo de participação de um viver pleno, em ressonância com  as demandas exigidas pela sociedade, é o risco que todos corremos caso aceitemos o peso da balança injusta.Porque muitas oportunidades ainda teimam em nos favorecer. 
 
 
Quando preciso falar para alguém sair da vaga especial,quando peço para algum motorista que retire o seu veículo do lugar reservado ,ganho mais familiaridade com a rotina dos desalojados.

   Só que ao invés de pão, eu clamo por um grão de consciência das pessoas.Porque nos falta uma lógica de integração. 

  Cada vez mais nos atinge a falta de uma visão sistêmica,capaz de analisarmos o país com maior humanidade.Estamos sempre divididos,conscientes das nossas ideologias.

   Em tempos de recessão,onde até os reinos que eram unidos debandam por um esforço de separação,nós compactuamos apenas com quem pensa ,age e recebe dividendos de forma compatível com a nossa.

 E,assim,muitos caminham,com larga insensatez e um colo de mãe feito para abrigar a própria intolerância.Não surpreende que aqui no Brasil se confunda Direitos Humanos com a defesa de bandidos.

   Lógica miserável essa a que glorifica o padrão. Maldita toda e qualquer exaltação ao corpo ideal, ao carro que nunca teremos, ou a ausência de fraternidade por qual estamos sendo guiados.

Mesmo assim,nem tão certo,mas nem muito torto,eu prossigo.

Enquanto passo por alguém em situação de abandono, não faço muita coisa. Apenas procuro andar silencioso. Em situações assim, eu zelo pelo sono dos desassistidos como o amor nutrido pelos meus familiares.

Isso é muito pouco.

 Eu queria me livrar dos andadores, das muletas que teimam em me perseguir .Pelo menos uma vez ,gostaria de erguer as mãos ao meus anônimos vizinhos,tão desprovidos de tudo.

 Mais relevante do que qualquer campanha de inverno,visando a arrecadação de cobertores é a nossa luta, que almeja a consolidação de uma existência mais consciente e inclusiva.

 Para que um dia nenhum de nós, em nenhum canto,ou avenida ,precisemos mendigar por aquilo que deveria ser obrigatório e justo.

Um abraço para todos,

André Nóbrega.



22 junho 2016

Conhecendo o badminton adaptado.


Hoje fui conhecer mais um esporte que a prefeitura de São José dos Campos-SP esta tentando desenvolver para pessoas com deficiência, o badminton.
É uma atividade física bem interessante que exige movimentos rápidos e muito reflexo, mas, hoje fui apenas para conhecer e confesso que gostei, por isso pretendo voltar mais vezes ai vou passando os detalhes aqui no Blog.
Vui...
Wanderlei Marques de Assis

18 junho 2016

Vai chegar o dia

 Vai chegar o dia em que a palavra acessibilidade estará gasta, vazia devido a linda estrada de militância,que muitos antepassados nossos souberam percorrer.Todos estaremos incluídos,enfim integrados aos espaços.

 Finalmente, o direito de ir e vir estará consagrado. Isso não precisará estar escrito em nenhuma constituição. Nenhuma lei precisará mudar aquele jeito nosso, a maneira de conceber a mais nova e revolucionária cidadania.

 Porque vai chegar o dia onde andarei pelas noites tranquilo.Sem me preocupar com buracos nas ruas, a falta de um transporte público digno,e sinais de trânsito de duração assassina ,a me obrigar a fazer malabarismo no asfalto.
  
 Para cada andador quebrado haverá uma mulher linda, parada na esquina, pronta para me dar carona. Será um ato tão espontâneo, um gesto formatado por tanta gentileza e amor ao próximo, que não estranhem se essa mesma mulher linda quiser viajar comigo. Embarcaremos numa viagem de pura inclusão, rumo a praias desconhecidas na Bahia.

 Vai chegar o dia na qual lembraremos sem saudades daqueles dias. De um tempo confuso,bem distante.Segundo os relatos apresentados pelos livros e filmes,quem apresentasse uma condição física ou mental diferente recebia um nome estranho.Era classificado,reconhecido como deficiente.

 Daí, recordaremos que a falta está longe de ser a chama que nos movimenta. Brindaremos com louvor, orgulho, pois mesmo quando vivíamos encobertos pelo manto da desigualdade, nós mantivemos a vida aquecida.

  E,ao contrário de um mito difundido,comumente espalhado na era das desigualdades, nós, de forma alguma quisemos servir de exemplo para alguém. Ouviremos sem atenção, alegria quando alguém quiser propagar uma lenda urbana, também atribuída a essa temerosa época.
  
  Era comum nos enxergar como coitados. Teria isso a ver com uma crença estúpida. Como se estivéssemos aqui para sofrer, como se adorássemos nos fazer de vítimas das circunstâncias e reclamar de tudo. Como no passado alguém pôde pensar isso da gente?

 Agora, a madrugada que avança chega bem fria,sem me abraçar com grandes possibilidades.

 Vou acordar amanhã sem encontrar nenhum resquício do quadro acima relatado. No entanto, isso não pode minar o desejo por uma sociedade mais justa e igualitária.

 Ainda vai chegar o dia em que as diferenças não vão pesar tanto.

 Fiquemos firmes,fortes em nossa luta.

 Um abraço para todos,


 André Nóbrega.

  

12 junho 2016

A solidão pode ser uma deficiência.

   Para quem quiser ouvir uma história romântica, recomendo ouvir alguma coletânea do Roberto Carlos, ou mesmo, uma lida pela obra do poeta Vinícius de Moraes.

  Hoje muitos comemoram o dia dos Namorados. A minha sintonia com a data é a mesma de um ateu órfão na ceia de Natal. Não existe muito que comentar sobre isso.

 Porque calhou da semana de provas cair na faculdade logo nessa semana que começa.Portanto,a minha paixão é destinada somente aos livros.Vivo um caso de amor desmedido,inevitável com o saber.Nem sinto falta da mulher amada, a me chamar para a coberta.

 Vivo casado com uma causa. Ela me absorve de tal maneira, me preenche com tanta felicidade, que os prazeres e alegrias do amor pouco me atraem. Ainda que isso signifique uma frustração para tantas mulheres, todas sedentas, dispostas a me conhecerem.

 Mesmo sem ser o Papa, já me acostumei com a castidade exigida pela cruzada da inclusão. Para me dedicar de corpo e alma à luta pela acessibilidade, decidi inibir os meus desejos. Tal sacrifício não será em vão . Se isso já valeu para os santos, por que não se aplicaria a mim também?

  Já fiz tantos versos para alimentar histórias de afeto. O percurso sentimental foi até bem preenchido. Não tem razão para lamentar a data de hoje. É apenas um empreendimento comercial, bancado pela indústria de chocolates, pelo poderoso lobby dos floricultores e pela implacável associação das indústrias de cobertor para dois. Já li no facebook umas cinco teorias sobre isso.
  
 E, na boa, vou reclamar de quê??Com NetFlix,comida congelada e tantos livros para serem lidos,como eu posso me sentir sozinho?
  
  Agora me confundi. Hoje é primeiro de abril ou dia doze de junho?Sei lá, com as provas, tanta matéria por estudar, eu posso me confundir. Daí, seria perfeitamente comum eu misturar as estações, visto que o meu humor está azedo que nem limão estragado. Preciso separar bem as datas do meu calendário.

  Porque não tem desculpa, nem mimimi.Vou à caça,dar a cara à murro e fazer o possível para ano que vem mudar o meu estado civil.Porque a solidão pode ser uma deficiência.

 Estar sozinho pode virar uma conveniente muleta.Principalmente se acreditarmos que vivermos sem compartilhar nossos momentos é uma imposição do destino,uma consequência vinda junto com as limitações com as quais nós precisamos conviver.

 Portanto, começamos a existir regidos por um princípio da negação.Quanto mais crédito darmos a essa crença,mais aprisionados ficaremos.

  Ficar em casa contra a vontade é sempre um castigo. Ainda que não possa transitar pelos lugares como gostaria, ainda que a falta de acessibilidade seja um empecilho para eu me divertir, predomina de forma mais intensa a vontade de conhecer uma cabrocha, capaz de percorrer comigo intensas avenidas.

  Fazer mais com menos. Não posso correr, nem falar como antes. Porém, cativar as pessoas não é uma coisa tão difícil.

 Talvez,eu esteja construindo barreiras. Com isso, também impedi que pessoas interessantes se aproximassem.

  Porque a fase de adaptação da realidade, mudança drástica de hábitos já passou. Enfrentamos muitas dificuldades em nosso cotidiano.Contudo, podemos ser viajantes solitários, ou tentarmos embarcar numa navegação a dois, rumo a continentes ainda não identificados.  

 Temos sempre a chance de construir inúmeros dias e noites dos namorados inesquecíveis.
  
Um abraço para todos,


 André Nóbrega. 


04 junho 2016

O que a Nise da Silveira pode nos ensinar.

 O Brasil passa por uma crise de representatividade. Na atual conjuntura, qual a grande liderança nacional capaz de angariar qualidades fortes o suficiente para nos orgulhar?A situação de descontentamento não é privilégio da nossa classe política, grupo com o qual já mantemos há algum tempo um sentimento de desagravo.

 Na antiga terra do futebol, na seleção do pós 7 a 1 você consegue identificar no time do Dunga muitos jogadores com o futebol grandioso para nos fazer acompanhar os jogos do time da CBF com algum interesse?

 Triste é o país que depende das ações de um juiz, que aplaude com fervor as ações de uma operação contra os mal feitos da política como se fosse uma cruzada consagradora, capaz de lavar todos os pecados cometidos por aqui desde a chegada de Cabral,em 1500.

 Cada vez mais eu busco o exemplo de figuras do nosso passado. Tivemos sim pessoas que atuaram como autênticos multiplicadores de sonhos. As sementes plantadas por esses tesouros é tão sólida que precisa ser reforçada.O esforço contínuo para a perpetuação da obra por eles deixada tem que haver.

  Por que,afinal,a herança deixada por avatares como Rubem Alves,Tom Jobim e Darcy Ribeiro deve ser esquecida?Em tempos incertos, caracterizados pela falta de justeza moral, pela desconfiança geral quanto aos rumos do nosso país, não ter uma liderança em quem confiar já é algo temeroso. Teremos perdido a capacidade de construir futuros transformadores da realidade?

  A psiquiatra Nise da Silveira, através do revolucionário trabalho realizado pelo ‘’Museu do Inconsciente’’, deu outra dimensão ao modo como os manicômios brasileiros tratavam os seus pacientes.

 O filme “Nise-o coração da loucura’’,dirigido por Roberto Berlinder,é uma aula de humanidade.A história nos coloca em contato com uma sensação diariamente minada pelos massacrantes telejornais.Depois de assistir o filme é possível voltar a ter orgulho de ser brasileiro.

  O filme começa em 1944, ano no qual Nise da Silveira é reintegrada ao serviço público, no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II.Nise,de imediato,se defronta com a conduta brutalizada,desumanizada vinculada aos internos da instituição.Eletrochoques,lobotomia eram práticas permitidas,avalizadas pela psiquiatria então vigente.

  Transferida para a Terapia Ocupacional, um setor esquecido,tratado como área de pouca relevância pelos médicos do Centro Psiquiátrico ,Nise inicia os seus trabalhos.

  Ao invés de executar pura e simplesmente tarefas de limpeza, manutenção do lugar, a psiquiatra cria ateliês de pintura e modelagem para que todos os pacientes se expressassem da forma que melhor lhes conviesse.

 Um canal de extrema evolução foi aberto. Pessoas segregadas, sem terem a menor chance de poderem se manifestar, de conseguirem dialogar ,estabelecer com a vida uma forma de expressão, passaram a obter um canal de estímulo.

 A falta de acessibilidade muita vezes nos isola. A dificuldade que temos para viver, trabalhar e nos divertir, muitas vezes nos desanima. Se essa sensação evoluir muito, acabamos por optar pela comodidade do lar,por não participarmos da vida como poderíamos.

 Pelo fato das dificuldades aparecerem de forma mais contundente, podemos enfim perder o ânimo, depois,não suportamos os pesos trazidos por tantas diferenças. Diante de um contexto tão desfavorável, não lutarmos por nossa cidadania e acharmos normal sermos excluídos do processo de inclusão passa a ser algo automático.

 Nise da Silveira construiu uma estrada para quem parecia inutilizado, e se mantinha hibernado no limbo da existência. Os pacientes da instituição, antes de conhecê-la,em muito se assemelhavam com animais abandonados,entregues à própria sorte.

 Mesmo com tantas oportunidades desiguais, não podemos entrar na armadilha do confinamento. Sabemos o quanto a efetividade dos nossos direitos passa por uma luta permanente.

  Não podemos desistir. E,muito menos, abdicarmos de encontrar as habilidades, os talentos capazes de nos distinguirem. Não é somente a falta,a desigualdade, o valor único que nos inspira.

 Queremos mostrar ao mundo o quão talentosos podemos ser.Com mais oportunidades,com certeza surgirão entre nós números artistas,médicos,atletas.

 Sobretudo,haverá a possibilidade para que pessoas plenas da sua capacidade possam aparecer.

 Nós podemos mais.

 Tem dúvidas disso?

 Por favor,então veja o filme ‘’Nise-o coração da loucura’’ e se junte a nossa corrente.

 Um abraço para todos,

 André Nóbrega.


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