03 fevereiro 2019

Atire a primeira roda quem nunca ouviu isso

André Nóbrega




            -Deus só dá a cruz a quem possa suportar!
            -Você é um exemplo de superação!
            -Sem querer ser mal educado, mas você ficou assim como??
         As barreiras, os entraves visíveis, a fazerem parte do cotidiano são meio óbvios, fáceis de serem identificados. Mesmo para o observador incauto, desatento as questões comuns, específicas as pessoas com deficiência, difícil não perceber a irregularidade das calçadas.
 Não notar a falta de estabilidade trazida, causada pelo calçamento irregular das cidades brasileiras. Aqueles de bom tato, afeitos ao exercício da cidadania, o desrespeito as vagas especiais também configura, aponta um caso claro, esdrúxulo, de falta de sensibilidade, respeito aos nossos direitos.
        Contudo, existe um fato mais difícil de mensurar, causado pelo impacto de certas falas. Persiste, na repetição de alguns dizeres, ditos a exaustão, a expressar um lado um quanto perverso da questão. Falo aqui da total indiferença, despreparo, no âmbito coletivo, de como o nosso sentimento é considerado.
       Sim, meus queridos e queridas, pois, no peito desafinado de uma pessoa fora do padrão físico, com Down, autismo, baixa visão, também bate um coração. Com total reverência, orgulho e gratidão a obra deixada por Tom Jobim e Newton Mendonça.
      Quando se reduz a complexidade de uma deficiência a uma espécie de tabuleiro cósmico-missionário, coloca-se um desvio para o tema. Falar de um fardo pesado demais para ser carregado, com um peso tamanho, incômodo, me coloca então, pelo raciocínio levantado, como alguém a ser crucificado.
         Nem como cruz, muito menos como mártir. O decantado lugar do exemplo não revela uma obviedade. O esforço em excesso para realizarmos tarefas simples, cuja mera execução exige um suor, uma entrega maior, revela um ponto essencial. Para deixar a discussão principal subtendida, posta em escanteio.
      Deficiente é o espaço, o lugar incapaz de prover condições mínimas para circularmos, gente. Para estarmos na pista, participarmos da vida, é inevitável enfrentarmos alguns perigos, entraves e obstáculos.
      O saldo disso nem sempre é heroico, garanto. Muitas quedas, tanto com relativo, ou alto grau de perigo, risco ao meu bem-estar, mas....Fazer o quê? O chamado das ruas, de brinde, possibilidade de encontros, festas, sobrevive, forte...Nessas calçadas ainda pontuadas pela dificuldade em me locomover.
    Quanto a tara, obsessão, em querer saber como a condição da deficiência surgiu, apareceu em nossas vidas, nenhum comentário a fazer. Creio, acredito piamente na evolução do indivíduo, durante o ruminar da sua jornada .
     Enquanto o mundo ideal, o éden da acessibilidade universal não é estabelecido, que  tal reformular alguns questionamentos básicos, no trato, no convívio com as pessoas com deficiência?
      Um abraço para todos. 





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