31 março 2019

Encarar o ‘’não’’ como vírgula. Aceitar o ‘’sim’’, com dúvidas


Por que a hora do sim é um descuido do não. Se Vinícius de Moraes afirmou isso, não cabe muita oposição. Palavra de poeta costuma valer mais, ajuda a ressignificar o rumo, o peso das experiências. Com inegável volume, carga de contundência e suavidade .
A experiência existente, pelos poucos amores vividos , obtida com algumas criações esparsas feitas, é bastante tímida, para ocupar alguma expectativa inútil, por comparação. Bom, se hoje tenho em Vinícius como um ídolo, na adolescência o considerava um Deus.
Cabia cada palavra de amor, letra de canção feita, para ajudar com meus primeiros passos, conquistas, digamos, dos dezesseis anos até os trinta. Da estrada , pavimentada por erros, tentativas e trajetória.
Dos 30 em diante a trilha sonora mudou, por completo. A Bossa Nova perdeu um adepto, ganhou, no máximo, um fã distanciado. Ao invés de saudar o mar, o barquinho a navegar, ao fim da tarde, junto com a garota a caminho no mar, vinham um sem fim de questões, bem mais urgentes.
Não mais olhar para os lados. Perder, por muitos anos enquanto me movimentava, na rua, o contato visual com as pessoas. Fundamental me ater, como pré-requisito para evitar quedas, aos buracos da rua.
Para quem possui uma deficiência, saber desviar dos erros é um hábito. Negar o cultivo da resiliência nunca é uma opção. O que não nos eleva, nos coloca a mágica condição dos exemplos.
Aprendemos com as experiências, apenas. A quantidade de negativas faz germinar na carne, junto com a alma, um senso de observação pragmático.
Com menos versos, poesia, uma atitude conjugada, um tanto acostumada ao fenômeno da impermanência. A dor a lhe afligir hoje, depois, vai se atenuar.
Tem sempre na esquina, no futuro, uma possibilidade  de riso, de gozo, pronta, à espreita, doida para nos acolher.
Com o tempo, adquirimos o reflexo necessário para evitarmos acidentes, junto com aquela malícia indispensável, vinda para tirarmos dos instantes alguma escada.
Algum levante possível, pronto para nos elevar.
Tudo muda, sempre.
Uma vantagem inequívoca em fazer 40 anos consiste justamente nisto. Desdramatizar o contexto dos erros, não fazer alarde, festa, desfile com trio elétrico, ao menor contato, com as vitórias surgidas.
Contudo, o leitor de Vinícius a habitar em mim sabe que a tristeza é apenas um intervalo, entre duas felicidades. E também, que há sempre uma mulher à sua espera, com os olhos cheios de carinho...
Apesar do convívio com alguns invernos, o alcance, vislumbre com a primavera aquiesce. Não para uma perspectiva ingênua, órfã , pelo contato insistente com constantes desatinos, abandonos.
Jamais perder a noção da realidade, do infinito hall de mudanças a serem operadas, para a causa.
No entanto, aprender a identificar, na curva e anseio dos asfaltos, a irresistível beleza de certas flores, que teimam, insistem em aparecer. Para mim, para você, a quem treinar o olhar.
Um abraço para todos!
André Nóbrega.   



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