Sabe a poesia oferecida por
breves momentos do cotidiano?É aquele presente dado pela vida,quando você menos
espera.Em meio àquele dia agitado,com mil coisas a realizar, a cabeça operando
por um ritmo frenético , e você vai atravessar a rua. Ao olhar para o outro lado,
percebe então uma criança pequena rindo para a mãe.
De súbito, aquele cenário amoroso o inspira,faz com que o frenesi, o barulho das ruas diminuam o impacto sobre você.Vendo
o amor materno sendo passado, poder sentir a singela risada de uma criança toda
repleta de carinho o faz atravessar as ruas melhor. Efeito similar ocorre com a
aparição e o magnético canto de alguns passarinhos. Isso me convoca a brindar à natureza,
assim como quando passo na praia e vejo o voo de alguns pássaros.A impressão
que tenho é que esses seres alados me presenteiam com um ballet celestial.
Talvez,uma das maiores brutalidades da
deficiência física é obrigá-lo a se manter em um estado de vigilância
constante.Para quem usa cadeira de rodas,muletas ou andador, andar nas ruas é
algo complicado.A falta de acessibilidade nos obriga a andarmos tensos. Com
tantas ruas esburacadas,calçadas incapazes de nos promoverem segurança, qualquer
descuido pode redundar em um tombo.E cair, ninguém gosta,né?
A preocupação em me manter ileso afasta a
capacidade de absorver a poesia da vida. Chego ileso das minhas idas à rua, mas
por vezes,bate uma aflição.Porque estou condicionado a uma equação desumana.Olhar
para os buracos das ruas é um fator mais importante do que notar a aproximação
das pessoas.Tem que haver um meio termo.
A deficiência nos obriga a nos fortalecemos.
Porém, nem por isso devemos ceder ao apelo da brutalização permanente, presente
nas privações com as quais temos que conviver.Por mais desiguais que sejam as
condições de trabalho, de mobilidade e opções de lazer,não ceder à ira,não
fazer da revolta uma moeda de troca é um desafio.
Não fiquei míope ao encantamento, nem mudo
para não poder relatar a beleza das coisas que presencio.Mudou a forma de
perceber a magia dos singelos momentos do dia a dia. Era uma antes da lesão,passou a ser outra agora.Nem por isso,o destino deixou de me fornecer matéria-prima para fazer poesia.
Ainda que a rotina de todos nós seja
prejudicada pela falta de acessibilidade,pela quantidade de ‘’nãos’’ que
juntamos para formatar um ensaio de ‘’sim’’, que o caminho não nos deixe
insensíveis às belezas da vida.
Temos uma vida de luta pela frente,um verão
para curtirmos,e um 2016 com Paraolimpíadas e a Lei Brasileira de Inclusão
para percorrermos.Vamos firmes,com disposição e abertura para aproveitarmos os
cantos de musas,os apelos de festa que nos esperam.
Um bom Natal para todos!
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